sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

E-LEARNING

A partir do advento da Lei n. º 9.394/96 (a Lei de Diretrizes e Bases) e do Decreto Federal n. º 2.208/97, que a regulamenta, uma série de medidas governamentais vêm buscando promover a reestruturação da Educação, ajustando-a às necessidades da vida produtiva, marcada por rápidas e constantes transformações tecnológicas.
Os desafios impostos pelos novos tempos exigem a adoção de políticas educacionais que venham oferecer um ensino de qualidade, contextualizado, valorizando as experiências extra-escolares e a maior vinculação entre educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
Não obstante, tais políticas somente se tornam eficazes se houver mudanças significativas em sala de aula. E, para tanto, cabe ao docente ser o grande articulador de uma maior aproximação entre escola e sociedade. Mas a Escola ainda não conseguiu se ajustar ao saber tecnológico, considerado irreversível para este século, carecendo de marcos explícitos e ferramentas analíticas que venham garantir a geração de novas competências. Para tanto, é necessária a realização de reflexões acerca da integração entre as praticas cotidianas escolares, o crescimento das tecnologias da informação e da comunicação e os saberes que esses geram, tanto no interior das escolas quanto fora dessas.
Crianças e adolescentes de hoje são portadores de uma nova cultura, feita por novos saberes e valores, fruto de mudanças nos meios de produção e difusão culturais de conteúdos e de modos de pensamento. Há uma predisposição das novas gerações em assumirem uma visão não alfabética (através da imagem), como forma de acesso e uso de produtos culturais, contrapondo a visão alfabética peculiar a uma cultura escolar e aquela adotada por docentes nela engajados.
É preciso, pois, que esses profissionais passem a adotar competências específicas que venham facilitar o diálogo com os novos alunos, garantindo as condições sociais (convivência) e pedagógicas (comunicação e interação) que viabilizem o significativo desenvolvimento da aprendizagem.
O novo docente deverá ser capaz de deixar de lado a escola burocrática, por outra que crie novos significados. Esses educandos esperam que o professor saia de uma cultura do exercício individual de ofício e caminhe para uma cultura de profissionalismo coletivo. Isso é, que o professor venha a abandonar atitudes que visam apenas “conservar o adquirido”, papel de mero reprodutores de culturas que a escola reproduz, por outro mais engajado, transformando a relação professor x alunos em professor e alunos.
A tecnologia central de ensino, pessoal intensiva, deve ser trocada por outra, que envolva, muitas vezes, signos contraditórios, passando o docente do futuro a ser um agente mobilizador de recursos múltiplos, tradicionais (a palavra, o caderno, o livro) e modernos (PC, Internet, etc) que sejam capazes de discernir e integrar as culturas da sociedade, a cultura dos jovens e aquela que é concebida pelos docentes. O novo docente deve ser capaz de compreender, apreciar e fazer dialogar as culturas incorporadas pelos alunos de instituições escolares. Cada vez mais a escola deve propiciar o multiculturalismo, onde a inclusão torna-se cada vez mais valorizada.

TELEVISÃO: SIM OU NÃO?

O Brasil está ingressando na era da televisão digital, que contém novas tecnologias capazes de revolucionar a qualidade de imagem e a interatividade entre emissoras e receptores de mensdagens. Tudo isso se faz sem que tenha surgido um debate mais profundo sobre o tipo de televisão que se pratica hoje no Brasil.

Em 2004, houve a realização do Forum Rio Summit, na cidade do Rio de Janeiro, promovido pela 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes. Esse Encontro alcançou pouca repercussão no Brasil e um relativo interesse pela mídia brasileira, em assimilar eventuais autocríticas sobre o seu papel na sociedade onde atua. Mas as conclusões apontadas por seus participantes continuam mais atuais do que nunca.

O Encontro ensejou abordagens de temas como Mídia, Mercado, Audiência, Valores e Diversidade Cultural, a partir de uma pergunta básica: qual a influência que a televisão exerce nas sociedades onde está presente? Vale dizer: quem define o que é mídia de qualidade? Quem pesquisa? Quem assiste?

O tema nunca deixou de ser atual e se revela de significativa importância, para a formação das sociedades atuais, uma vez que pesquisas demonstram que jovens e adolescentes alcançam a média diária de não menos do que 4h30m a frente de um aparelho de televisão. E deixa algumas importantes questões: como a mídia retrata as diferentes culturas e identidades do mundo? A globalização permite o intercâmbio de expressões individuais e coletivas ou, ao contrário, ela homogeneiza essas expressões com padrões comerciais e culturais dominantes? O que deve ser feito para democratizar o acesso à mídia e assegurar produções que respeitem crianças e adolescentes?

No Brasil, o processo de democratização e o advento da Constituição de 1988 trouxeram consigo limitações à censura e o emergente desafio da construção democrática da mídia, a partir da qualificação de conteúdos veiculados pelas emissoras de televisão. Com efeito, é fato notório de que a construção da cidadania passa pela qualidade do que é apresentado pela televisão e suas influências na formação do imaginário popular.

Na passagem para o atual século, a televisão vem sendo apontada como responsável por não menos do que três influências negativas na construção da personalidade dos indivíduos: o culto a violência e ao consumo e a banalização do sexo. É preciso pensar, repensar e refletir o que é útil e o que é prejudicial à formação de indivíduos, pois a construção da cidadania passa, necessariamente, pela qualidade da televisão, pela ética e pela moral, visando a diminuição das influências negativas.

Jovens e adolescentes que representaram países dos quatro continentes reivindicaram, durante o Encontro, maior participação na definição da programação a ser veiculada, assim como maior respeito e reconhecimento à sua condição de ser humano. Do jeito que está, a televisão está incentivando o espectador a assumir uma condição passiva, frente à realidade que absorve, capaz de lhe gerar amortecimento de seus sentimentos. É preciso entender que a televisão, feita por adultos e direcionada a jovens e adolescentes, deve mudar o seu papel, passando a despertar em seus espectadores uma condição mais ativa, de agente de transformação. Por sua vez, os jovens vem tomando maior consciência de que são capazes de interferir, sempre que a programação venha violar ou infringir a ética construtiva da sociedade onde se processa. Desejam maior participação na composição das mídias. Esse Forum demonstra isso.

O exemplo não parte de quem deveria tomar a iniciativa: os chamados adultos, pois a televisão do amanhã, está sendo construída hoje, sem a participação de quem deve exercer a sua cidadania plena, nos próximos anos.

E, para tanto, é preciso levar esse tema até o seio da família, pois os adultos, muitas vezes, mantém uma concepção distorcida do que seja benéfico ou maléfico para seus filhos. A visão que os adultos tem da televisão não é necessariamente a mesma daquela expressada pelos jovens e adolescentes. É preciso abrir o diálogo, entre país e filhos, entre adultos e jovens e adolescentes, visando harmonizar visões diferentes e até mesmo antagônicas sobre os conteúdos disseminados pelas emissoras de televisão.

É preciso maior integração entre sociedade civil organizada e o Estado, notadamente envolvendo os Ministérios Público e da Justiça, na regularização dos conteúdos, sem que se perca de vista o fato de as emissoras operarem a partir de concessões públicas, sem ferir o direito de livre iniciativa e harmonizando recursos públicos e valores éticos e culturais mais representativos do contexto onde se insere a televisão brasileira.

Ao lado da pobreza que assola grandes contingentes populacionais, da falta de democracia plena, o mundo convive com uma fome diferente, bem mais abrangente do que a falta de alimentos orgânicos: a fome de cada indivíduo ser reconhecido pelo meio onde vive, com direito a voz e voto. Urge discutir-se meios para que a mídia não se torne cúmplice da violência e da criminalidade, nem mesmo incentive a indiferença, em relação ao que se passa com a sociedade brasileira.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Raízes gaúchas

O domingo já vai a pino. O calor faz o cusco, deitado sob a mesa, se esparramar pelo chão, imóvel, inerte, entregue, à espera de uma brisa que lhe refresque o pelo. A vitrola toca música gaudéria. E eu entregue aos meus pensamentos...

O coração bate mais forte. Saudades dos pagos.

Minha mente produz faíscas, que se convertem em pensamentos sobre as minhas origens. O Rio Grande está longe na geografia, mas colado, em meu coração mortal. Meu Estado natal ganhou evidência, na mídia nacional, em face de uma trama épica, encenada pela Rede Globo, que levou o nome de “A Casa das Sete Mulheres”.

Reflito sobre a trama e a trajetória de meus antepassados. Penso em mim nesse cenário. O que tudo isso tem a ver comigo?

As origens do Rio Grande ostentam um passado de glórias, mas, também, de guerras, de lutas e de adversidades. A mais marcante: a de 35.

Os homens fazem a guerra porque querem as glórias, querem ser admirados e tratados como heróis, fazendo reluzir seus brasões exitosos. Sim, vencer o inimigo, a qualquer custo, e sair da peleia coroados de feitos. Tudo isso engala sonhos e enaltece ousadias.

A história pouco conta dos entremeios. Só o início, coberto de sonhos, e o fim, coberto de glórias. Quantos pelearam, quantos tiveram que passar por montanhas de corpos putrefatos, sangue jorrado, lenços manchados (não brancos, nem vermelhos, pois muitos se esquecem que maragatos e chimangos vieram depois, em outros conflitos bélicos), bandeiras desfraldadas ao chão, estâncias arrasadas, gineteadas produzindo somente extermínio. Quantas roupas esfarrapadas, botas de garrão de potro, confeccionadas às pressas, utilizando couro mal curtido, e faixas arroteadas.

Famílias desfeitas, chinas viúvas, piás órfãos, mascates com bolsos cheios de níqueis, farrapos estropiados, caramurus perdendo o vinco de seus garbosos fardões, índios xirus expatriados, o amargo mais amargo, a cana ardente mais ardida, que nem urtiga, tchê, mas bah...

Dez anos valem muito. Quantos remanescentes, saídos vivos dos campos de batalha, não chegaram a se perguntar: por que mesmo essa guerra começou?

Todo o conflito bélico é assim mesmo, mano, só serve para enfraquecer a soberba...

PODER E ELEIÇÕES

“Euuu tenhoooo a fooorçaaa!...”. Quem não lembra desta frase, proferida por um herói das estórias de quadrinhos, que, ao desembainhar sua espada, adquire o poder de invocar as forças superiores para auxiliá-lo a vencer seus ferrenhos inimigos? Quantos de nós não gostaria de estar dotado de forças sobrenaturais para destruir o poder de seus oponentes? Levados pelo discurso e pela alardeada proposição de enfrentar os verdadeiros “inimigos do povo”, inúmeros candidatos, a cada eleição que se realiza, sobem aos palanques para declarem-se legendários defensores das causas públicas.
Invariavelmente todos se mostram desapegados dos apetites que o poder lhes concede, alardeadamente vinculados ao pudor, o respeito ao outro, o recato, o serviço, a gratuidade. Mas, quem, dentre tantos, consegue renunciar a seus interesses pessoais, para tão somente tratar das coisas públicas? Para conhecer um homem, basta lhe dar o poder e observar suas limitações nascendo de suas entranhas, para revelar, ao final, quem realmente é. O poder seduz. Galgar uma posição de destaque e domínio sobre outras pessoas é uma intenção nem sempre translúcida.
Uma pessoa chega ao poder investido segundo três intencionalidades diferentes: para superar complexos de inferioridade ou de superioridade, ambas formas de poder insatisfeitas, ou, ainda, pelo altruísmo de servir o próximo. No primeiro caso, por sentir-se fracassado em sua auto-estima e ambição pessoal, forçando uma atenção e cuidados especiais do meio. No segundo caso, a busca pelo prestígio, como fruto da tentativa de sempre levar vantagem em todos os aspectos da existência.
Muitas vezes, quem detém o poder não tolera críticas ou objeções, embora, paradoxalmente, sinta-se aliviado ao deparar-se com opositores, pois, assim, encontrará uma válvula de escape para seus impulsos agressivos e destrutivos, principalmente se estiver frustrado ou extremamente infeliz.
A última das intencionalidades se refere a mais nobre meta humana a ser alcançada: o sentimento de comunidade. Nesse caso, o sentido de poder passa de um aspecto egocêntrico ou narcisista, para algo que contribua para o desenvolvimento da coletividade humana. Tanto o egoísta quanto o narcisista procuram usufruir ao máximo do poder, por ser transitório e, por isso, nada dividem. O preço pago por esses acaba sendo a solidão, pelo temor de se expor.
Nos momentos que antecedem a uma eleição, cabe a todos uma reflexão. Ao leitor, para refletir sobre aqueles candidatos dispostos a transformar o poder egóico em social. Aos postulantes, conhecerem seus aspectos psíquicos. Talvez eles próprios estejam passíveis de se converterem em prato principal para a função de manutenção do aparato do poder. Pois, do contrário, estaremos sempre criando estruturas de poder fragmentadas e alienadas dos verdadeiros aspectos gregários que favoreçam a evolução humana.
Como bem dizia Adler: “O poder é uma terrível armadilha, pois quando alguém pensa possuí-lo, já está possuído por ele”. A possibilidade de criar um mundo à sua imagem e semelhança constitui o cerne de uma ambição mais efêmera que o próprio poder. Em troca, ganhar a eternidade requer, dentre outras tantas coisas: não tratar os sentimentos alheios de forma irresponsável, saber que às vezes se ganha outras não, alimentar o ego com elogios ofusca a visão acurada da verdade e que vontades individuais estão subordinadas aos desígnios coletivos. A recíproca jamais revela-se verdadeira.

As duas faces da morte

Reservamos um dia especial para pensar na morte: o dia 2 de novembro, uma das datas mais significativas para a humanidade, que pode passar, para muitos, quase desapercebida. Ou melhor, pode ser vista como mais um feriado, um dia para se deixar de lado o trabalho, as obrigações e dedicá-lo ao lazer ou ao ócio. Para esses, pensar na morte constitui uma tarefa a ser postergada, como se a possibilidade de lhes darmos as costas signifique adiá-la ou mesmo evitar que venha bater em nossa porta.

Cultuar o corpo, dar-lhe estética ou musculosidade, promover-lhe plástica e ocultar-lhes suas imperfeições ou, mesmo, privilegiar sua beleza, como ilusórias formas de alcançar longevidade, constituem marcas de uma sociedade que valoriza o consumo e evidencia a forma em lugar do conteúdo. Esse mesmo pragmatismo pode causar o ledo engano de que, pela graça, fica assegurada a mesma prerrogativa de alcançar a eternidade.

A vida é curta e circunstancial. A morte é inexorável e, também, inconveniente, já que bate à nossa porta sem que estejamos prontos para recebê-la. Por isso, é necessário que façamos uma reflexão sobre o seu significado. Afinal, morremos como vivemos e aquilo que dá sentido à morte também dá sentido à vida.

Ao cogitarmos o fim de uma etapa, para levarmos em consideração o início de outra, há que se preconizar não o princípio da graça, mas o princípio de justiça, já que, ao partirmos, deixamos tudo a que nos apegamos, somente levando aquilo que se constitui vida interior. E essa, por sua vez, se fundamenta pelo princípio do amor.

Pois, afinal, nossas emoções se desvanecem, em relação aos que se foram, somente ficando, como marca indelével, o amor que alimentávamos aos que nos foram caros. Ele é, sem dúvidas, a grande força motriz, que nos conduz e valida a nossa existência.

Vemos a morte como a grande apoteose, que chega um dia para por fim a todas as possibilidades de sonhos que alimentamos. Porém, nos esquecemos que morremos a cada anoitecer e tornamos a nos encontrar nesta vida em cada amanhecer. O passado já não existe mais. O futuro ainda é uma ideação.

Podemos dizer que vivemos somente neste momento presente, o agora, que nos dá a condição de enxergarmos para além de nossos sentidos para identificarmos a própria manifestação da eternidade, imiscuída com as formas subjetivas de encararmos esta existência.

Uma breve reflexão, que possamos fazer nesse dia, poderá resultar na certeza de que as flores que jogarmos sobre os túmulos de nossos antepassados e de nossos amigos, conserva o mesmo simbolismo que reservamos à vida, em toda a sua magnitude e dignidade, ao acreditarmos que ela não se restringe tão somente à matéria, mas é essencialmente resultado e extensão de uma dimensão cósmica e transcendente. Há que espiritualizá-la.

Mais do que uma soturna experiência, esse dia serve para mostrar a ambigüidade da existência e a responsabilidade de assumirmos nossa vida, pois o que temos para realizar deve começar já, neste momento de existir, o único ao qual podemos usar nosso arbítrio. Só assim evitamos sermos surpreendidos quando baterem à nossa porta, quando esgota-se o tempo para descobrir que vida e morte fazem parte de um mesmo contexto, chamado evolução existencial.

Consciência Profissional: de si ou para si?

Em artigo anterior, reportei-me ao novo perfil de empregabilidade e incitei os leitores a fazerem a si mesmos a seguinte pergunta: Você se ama? Fui procurado por pessoas que leram meus registros, interessadas em saber se, com essa pergunta, eu estaria estimulando profissionais a assumirem um comportamento narciso? E se seriam exatamente esses, por adorarem a si mesmos, os mais capazes de sobreviverem à seleção natural, imposta por leis de um mercado de trabalho altamente competitivo e, por isso mesmo altamente seletivo? Seriam os que investem em marketing pessoal (assunto que se encontra na ordem do dia) aqueles que detém maior possibilidade de sucesso profissional? E a famosa “ Lei do Gerson ” não estaria aí para validar essa acertiva?

Tais preocupações contemplam uma questão substancial: quem obtém maior sucesso profissional, o egocêntrico ou o altruísta? Inegavelmente a questão revela-se polêmica e suas nuances se estendem para além dessas linhas. Profissionais narcisistas são enamorados de si mesmos. Sua vaidade se baseia em um ego que se enfeita para que os outros o adorem. Amparam-se largamente no delírio pela onipotência, caminham em direção aos excessos, a volúpia, ao poder e seus vícios, e, portanto, são completamente despidos de qualquer fundamento social. O mundo existe a sua volta para lhe servir. Ser paparicado é seu objetivo maior.

Energia e tenacidade para alcançar realização profissional podem muito bem estar incluídos entre os atributos de quem alimenta comportamentos narcisos. Com efeito, os novos paradigmas do trabalho exigem dos trabalhadores grande disposição para mudanças, onde devem ser capazes de se ajustarem rapidamente às transformações ocasionadas em ambientes profissionais e às inovações tecnológicas, o que requer autodesenvolvimento, despertar de atitudes criativas e adoção de uma adequada visão analítica da realidade onde atua. É necessário, ainda, ampla compreensão das atividades em que estão inseridas, excelente capacidade de comunicação, tanto oral quanto escrita, aptidão para resolver problemas e tomar decisões, de forma autônoma.

Não obstante, é o capital humano que vai tomando lugar do capital financeiro, à medida em que ocorrem avanços tecnológicos e são inseridas variáveis intelectuais em processos de produção, onde ao homem são reservados os processos cognitivos, relegando às máquinas a tarefa de esforço repetitivo. E, nesses ambientes, o espírito de corpo revela-se uma questão imperiosa, pois esse somente existe onde haja consciência coletiva.

E essa, por sua vez, em atitudes assumidas por pessoas que saibam harmonizar emoções e pensamentos, em função da evolução do ambiente em que convivem, incluindo elas próprias. Para que haja desenvolvimento de grupo, é necessário que hajam decisões de grupo, em busca de soluções aos problemas inerentes ao processo de transformação. Envolve, portando, questões éticas. E, nesse sentido, é necessário que se leve em conta que um ambiente de trabalho não serve apenas para satisfazer necessidades pessoais, mas para propiciar transformações a todos os seus integrantes, iguais em sua condição humana, porém diferentes no que se refere às formas de pensar e de agir.

E isso implica em cada indivíduo conhecer a si mesmo. Em levar em conta que o êxito profissional não depende de sorte, de magia, de colegas ou de seu chefe , mas constitui resultado do esforço inteligente e eficaz de cada um. A felicidade está nas mãos de quem trabalha, ao saber afastar comportamentos negativos e emoções prejudiciais, gerindo com habilidade todas as questões da vida. Apesar dos altos e baixos que ela enseja, o êxito profissional apoia-se na construção de um estado interior que independa das flutuações de humor.

As verdadeiras transformações acontecem de dentro para fora e se expressam através da serenidade interior, capaz de nutrir sentimentos nobres, nascendo dali a motivação para a construção de um ambiente de trabalho otimista, a partir de atitudes de empatia, cooperação e ligação social.

É do interior que vem a certeza de que somos frutos do amor e dele dependemos para uma existência plena, fazendo-nos cultiva-lo dentro de nós, para termos o que oferecer aos demais, como símbolo do respeito à vida, que nos concede existência, à dignidade, que nos liga à nossa humanidade, a nosso projeto de vida, de nos tornarmos trabalhadores conscientes, mas acima de tudo cidadãos que encontram uma razão maior para sua existência. E esse estado de ser não nasce pronto, mas deve ser construído por cada um, incitado por essa pergunta básica: você se ama? E servindo de desafio a todos os que se interrogam, a começar pelo autor destes registros.

DO DESEMPREGO À UMA NOVA EMPREGABILIDADE

Você está despedido! A cada dia que passa, essa frase vem se tornando mais e mais banal, a ponto de se converter em símbolo de um dos problemas mundiais mais agudos da atualidade: o desemprego. São os ventos da globalização que sopram nessa direção.
Como explicar a um chefe de família, em situação de desemprego, que, devido à adoção de novos paradigmas econômicos, trazidos pela globalização, não poderá mais dispor de seu emprego para sustentar seus dependentes? Como explicar a um jovem, pronto a ingressar no mercado de trabalho, que o capital especulativo, agora globalizado, não tem mais fronteiras para se reproduzir e, pôr isso mesmo, é aplicável onde o retorno lhe seja mais rápido, sem contemplar questões sociais? E que a força de trabalho também está globalizada, pois as oportunidades se dão em lugares onde ela se torna mais barata?
Como explicar a um trabalhador, que possui nível de instrução inferior ao segundo grau completo, que as novas oportunidades de emprego exigem qualificação que não dispõe? É difícil um trabalhador “bem” empregado supor que, segundo dados da OIT, dentro dos próximos 20 anos, apenas 5% da população economicamente ativa terá carteira assinada. Também é difícil levá-lo a supor que emprego seguro se torna cada vez mais raro.
Ao trabalhador acomodado poderá lhe parecer irreal o fato de as novas oportunidades se abrirem não mais a profissionais dóceis com a disciplina organizativa, subserviente, realizando tarefas específicas, em um ambiente onde as transformações ocorriam de forma lenta, progressiva e previsível e onde as habilidades gerais não eram valorizadas.
Agora, o trabalhador deve engajar-se no processo decisório, dele dependendo o êxito dos negócios da empresa. Deve saber atuar em equipe, tendo destreza para interagir, encontrar soluções criativas para problemas surgidos no dia a dia e, ainda, conhecer não só com profundidade seu ofício, saber avaliar o comportamento de mercado e ser detentor de criatividade, capacidade de improvisação e de inovação, ser capaz de assimilar rapidamente novos conhecimentos tecnológicos, buscar maior acesso a informações, dentre tantos outros atributos que lhe garantam a empregabilidade.
Para quem disputa uma vaga no mercado, as dificuldades são crescentes. A competitividade aumenta, o volume de investimentos em postos de trabalho diminui, ficando a maior parte das oportunidades restrita ao mercado informal. Cerca de 40 milhões de brasileiros trabalham na informalidade, contra 30 milhões na formalidade. O resultado é que não há trabalho em quantidade e qualidade para atender à população. O trabalhador brasileiro está às voltas não só com problemas de desemprego, mas de qualidade de emprego e de informalidade.
Problemas estruturais constituem reflexo da substituição de modelos que, pôr sua vez, trazem suas seqüelas. Na passagem de uma sociedade agrário-exportadora para a atual sociedade industrial houve uma verdadeira revolução na estrutura de emprego, fato que agora se repete, na passagem para uma sociedade da informação. O novo ciclo conta com a contribuição das máquinas, que se tornarem cada vez mais inteligentes, rápidas e baratas, o que provoca o conseqüente barateamento do fator capital na produção. O ser humano passa a ser “o principal patrimônio” de uma empresa.
Os novos paradigmas estão a ensejar uma verdadeira obsolescência humana. Esse quadro, generalizado no mundo inteiro, agrava-se no Brasil devido aos baixos níveis de educação, de crescimento da economia, bem como a existência de uma legislação trabalhista inflexível.
O quadro vivenciado pela sociedade brasileira enseja uma tomada de consciência e também novas posturas a serem assumidas. Pois ela deve encontrar soluções mais efetivas para socorrer aqueles trabalhadores que não são mais úteis, por não se enquadrarem dentro dos novos paradigmas. Em nível individual, a certeza de que os novos tempos não ensejam tão somente mudanças de posturas profissionais, mas, principalmente, uma reavaliação das formas de encarar a vida, pois, afinal, o fator trabalho constitui uma das principais fontes de realização existencial.

LER: Um esforço repetitivo

As recentes transformações, ocorridas no mundo do trabalho, tem resultado no advento de um novo perfil de competência ao trabalhador, exigindo-lhe uma base mais ampla de conhecimentos profissionais, ampliação de habilidades pessoais, maior equilíbrio emocional, criatividade, dentre outros atributos, como forma de contribuir mais efetivamente para a elevação da qualidade e da competitividade das empresas onde atuam. Não obstante, dependendo da ênfase gerencial, esse binômio pode gerar resultados distintos na relação capital-trabalho. A ênfase na qualidade, sem deixar de lado a competitividade, levará à construção de empresas cidadãs, a partir da formação de ambientes saudáveis e felizes, inspirados em pessoas motivadas e produtivas.
A ênfase na competitividade ensejará a falta de flexibilidade, de tempo e de ritmo, falta de canais de diálogo entre trabalhadores e empresa, pressão de chefias para manter a produtividade, equipes formadas por funcionários que, temendo desemprego, competem entre si, desmotivação para vestirem a camisa da empresa, entre outras.
Tais ambientes são propícios ao aumento de incidência de doenças ocupacionais e a inutilização prematura de expressivos contingentes de trabalhadores. As LER ou DORT, nome mais pomposo, adotado a partir de 1998, são a segunda causa de afastamento do trabalho no Brasil. Segundo dados da Previdência, durante os últimos cinco anos, cerca de 532 mil trabalhadores se afastaram do trabalho, por algum período, devido ás LER. Isso significa um aporte de recursos públicos da ordem de R$1,2 milhão à previdência e ao combate à doença.
Segundo as mesmas fontes, cada afastamento acaba custando, em média, no período, cerca de R$89 mil ao empresário. Em 1999, ocorreram, nos Estados Unidos, 650 mil casos de DORT, que geraram despesas da ordem de US$15 bilhões. No Brasil, as estatísticas não são precisas, mas segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as LER atingem um em cada 100 trabalhadores da região sudeste.
Mas o fato é que suas causas estão ligadas às condições inadequadas de trabalho, que geram ou se somam a níveis elevados de estresse e sobrecarga emocional. O resultado é uma combinação explosiva que atinge músculos, tendões, ligamentos, vasos sanguíneos, nervos, além de aspectos subjacentes, como a perda de auto-estima, da saúde mental, e a incapacidade permanente de jovens e vigorosos trabalhadores.
Bilhões de reais, dispensados pelos empresários e pelo Governo, para correção de efeitos oriundos de ambientes profissionais impróprios e de doenças do trabalho podem ser economizados, com a realização de debates acerta de prevenção e tratamento dessas enfermidades. E, ainda, alimentar discussões que levem instituições a superar obstáculos à construção de verdadeiras empresas cidadãs, mais participativas, que impeçam o alijamento prematuro de contingentes cada vez maiores de trabalhadores

Orden (ação)

Os recentes episódios e seus desdobramentos, envolvendo clérigos da Igreja Católica, ensejam reflexões ligadas ao exercício do voto sacerdotal, que extrapolam seus pilares e se estendem a todas as ordens religiosas, cujo corpo místico se ampara na vida consagrada. O que estaria ocorrendo com a vocação sacerdotal? O que leva ao não cumprimento dos votos formulados? O que faz separar intenção e cumprimento dos compromissos assumidos? O que provoca a perda de coerência entre o escolhido e o esforço de realização? São perguntas que passam a ser formuladas sem respostas conclusivas.
Considera-se clérigo aquele que se iniciou nas ordens clericais, aquele que recebeu missão ou incumbência de cunho religioso ou místico. A deflagração dessa condição ocorre a partir da manifestação de uma vocação: isso é, o ato de descobrir em si a disposição ou aptidão para levar uma vida consagrada. Nessa caminhada, há um trabalho interior de validação desse chamado, acompanhado por estudos apropriados e, por último e mais importante, a emissão do voto ou compromisso de ordenação.
Ao ordenar-se, o emissor do voto passa a trabalhar, em si, pela harmonização dos valores humanos e divinos, subordinando suas necessidades pessoais aos valores verdadeiramente transcendentes que orientam a trajetória humana nesta condição de vida. Vale dizer: empreender um esforço ascético para superar limitações pessoais e alcançar uma vida interior plena e unitiva. Esse esforço valida-se através de um comportamento ético e virtuoso que reconhece, na figura do outro, uma extensão da dimensão criadora, e, portanto, parte integrante e integradora do universo que pretende alcançar. O principal sentimento que deve assumir traduz-se pelo verbo, refletido no respeito, reverencia e responsabilidade em suas relações com os demais.
A emissão dos votos é marcada por uma aspiração que deverá ser ratificada ao longo da trajetória. Muitos ficam pelo caminho, abrigados em cavernas ou suspensos nas fendas das rochas que servem de suporte à escalada. Nenhuma força externa poderá assegurar que alguém cumpra o que é consagrado através do voto. Ninguém pode caminhar com os sapatos alheios. É somente a pessoa mesma quem deverá cumprir com os deveres que assume. Cada montanha que escalar, revelará a próxima montanha, e de cada pico deve descer ao vale da humildade e subir ao topo da disciplina que virá a seguir.
A iniciação sempre acontece com a unificação das consciências superior e inferior. Os frutos maduros soltam-se com facilidade das árvores. Não se pode pedir a um neófito uma cega obediência, mas inteligente compreensão de princípios. Se a luz é fraca que não lhe dá possibilidades de compreender os princípios em questão, não pode ser colocado em posição de ter de tratar com questões que estejam além de sua consciência. A disposição altruísta para servir constitui princípio da obediência. Se não estiver pronto, nem mesmo o maior iluminado teria a possibilidade de lhe conferir o que ainda não alcançou. O sacerdócio requer virtudes, pureza, devoção e trabalho desinteressado, em prol da humanidade, e fiel compromisso de enaltecer a sua trajetória por essa forma de vida, partir daquilo que considera condição mais elevada de existência.

O GRITO DO IPIRANGA

Da janela de um quarto de hospital, localizado às margens do Arroio do Ipiranga, vi Porto Alegre à minha frente, em quase toda a sua totalidade. Aço, concreto e vida. Vida que acontece através de milhares de transeuntes, que circulam por ruas e avenidas, fazendo acontecer a metrópole.

Vida através do verde das árvores, que torna a Capital uma das mais proeminentes do País, por abrigar uma das maiores concentrações verdes urbanas por metro quadrado do território nacional. Vida através de suas águas, cujo estuário maior cobre a extensa conurbação, que se estende através da depressão central de los pampas. Vida dual, que se desenrola dentro de hospitais, onde parte do universo se alimenta de energias renovadoras e parte, invisível aos olhos, é hospedeira que vampirisa forças vitais.

Essa mesma dualidade também vejo compondo a paisagem à minha frente: o Arroio do Ipiranga, que agora agoniza, fruto da inconsciência humana. Outrora ostentava um caudaloso curso d’água, desde os meus tempos de menino, agora não mais do que uma fina lâmina, de cor escura e odor fétido, que circunda bancos de areia, trazidos em dias de fortes chuvas. Quase anônimo, invisível aos olhos que passam, ele, mesmo moribundo, continua a cumprir o seu papel de fazer esvaziar boeiros repletos de esgotos e decarregar para longe dos olhos o lixo acumulado ao longo de suas margens.

Tal como doente, em hospital, o Arroio agoniza, podendo ser, a qualquer momento, acometido por uma trombose terminal. Enquanto isso não acontece, ainda há seres que lhe fazem vida: as tartarugas, que acreditam em seu poder regenerador. Nós, seres humanos, dotados de “inteligência”, o deixamos bem assim, moribundo, para que não morra de vez, nos esquecendo que a própria inércia, frente a um arroio, também representa nossa impassividade diante da vida.

O Arroio é parte de nós, parte de nossa história, parte de uma paisagem de um porto verdadeiramente tri-legal. Se ele morrer, levará a essência vital de nós mesmos. Afinal, a palavra Ipiranga representa o grito, a liberdade, a dignidade e independência e arroio o símbolo de vida que corre, com sangue nas veias, que transporta nutrientes e retira impurezas danosas à existência. Não brademos, pela segunda vez, esse grito, pois o brado, agora, será contra nós, simbolizando, tanto para suas águas, como para nossa vida, a mesma inexorável realidade: independência ou morte.

MAIOR ABANDONADO

Rejeitado pela família, desprovido de condições financeiras para levar uma vida digna, na faixa etária a que pertence, quase sempre apresentando saúde abalada e auto-estima baixa. Esse é o perfil mais comum de idoso que chega, em número crescente, aos asilos de assistência.
São os maiores abandonados. Seres humanos que deixam seus antigos papéis (pai, mãe, tio, irmão) para se tornarem anônimos pacientes de asilos e de casas de assistência. Acostumados a uma vida laboriosa, são levados à ociosidade e dessa à depressão, pela ausência de função ou atribuição, pela vontade pessoal não satisfeita, pela rotina marcada por “banhos de sol” e babá eletrônica (a televisão).
Em seu novo “habitat”, os maiores abandonados não conseguem recompor, com seus assemelhados, as referências de seus antigos vínculos familiares, não estabelecendo elos entre uma vida construída no passado e a inércia que marca a desconstrução de um presente sem presentes.
Símbolo de uma sociedade que começa a ignorar a “ordem do amor” ou da hierarquia, onde quem entra no sistema familiar primeiro tinha, até recentemente, certa precedência sobre os que vinham depois, esse fenômeno transforma suas referências e estabelece uma nova lógica familiar. A alma da família se desfaz, pelo descarte de membros não produtivos. .
Os asilos são moradas de medo, frustração, dor, raiva, culpa, amargor, dúvida e até mesmo ódio, alimentados por sentimentos compassivos não compartilhados. São ante-salas reservadas às pessoas designadas para viverem a morte mesmo antes de ela chegar.
Paradoxalmente, quanto mais próximos chegamos de nossa própria morte, mais vivos nos sentimos. A Terceira Idade é um despertar para os verdadeiros fatos da vida. Quando bem vivida, aprendemos a distinguir claramente os interesses de nosso ego, voltado para si próprio, e o que é nosso interesse maior e supremo. Quando não, enchemos nossas vidas de expectativas, ansiedade nervosa e medo. Talvez por isso mesmo seja encarada como a etapa da reflexão, em busca de sabedoria e discernimento.
Para quem vive a chamada terceira idade, o apoio e a solidariedade de seus familiares passa a ser um fator indispensável para a superação dos limites impostos pela idade e pelas circunstancias de viver a derradeira experiência de vida. Porém, nem sempre os que acompanham alguém nessa fase sabem oferecer o amor e a compaixão necessários, abandonando-os à própria sorte e transformando essa experiência existencial em realidade repleta de sofrimento e solidão. Mesmo vistos isoladamente, esses casos são sinais de que os padrões modernos de vida estão deixando para trás referências de uma relação social integradora e repleta de significados para a construção de afetividades e cumplicidades entre os seres humanos.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

COMPETÊNCIA INSTITUCIONAL

O que leva uma Empresa a ser considerada competente no universo onde atua? O que motiva empresas e empresários a oferecer preferência a uma prestadora de serviços, frente às demais concorrentes, em face da competência declarada? Quais as características que devem ser assumidas, por seus recursos humanos, para chegar a essa competência instalada? Quais os atributos que um funcionário deve possuir para fazer parte deste time? Tais perguntas constituem uma verdadeira puzzle na constituição de perfis institucionais e na organização de equipes de trabalho.
Dizem os mais sábios que mais do que se viver respostas há que se saber viver perguntas, pois essas constituem a base para renovação e transformação de paradigmas. Não obstante, algumas obviedades podem permitir a escolha dos caminhos institucionais a serem seguidos.

Para chegar à competência, deve uma empresa ser reconhecida como uma Instituição capaz de atender a diferentes demandas formuladas; registrar níveis elevados de eficiência e qualidade em seus serviços; saber empregar tecnologia apropriada, segundo os mesmos paradigmas utilizados em ambientes aos quais se destinam.
Devem procurar as empresas possuir um conhecimento coletivo acumulado, construído e renovado por todos os seus atores, assimilado em nível individual, a partir das particularidades de cada agente, e disseminados segundo o pensamento coletivo. E, ainda, procurar a Empresa estabelecer, individual e coletivamente, formas interativas de se relacionar com seu público alvo, vindo a transferir a esse o saber acumulado, a fim de que esse venha a ampliar o seu universo existencial e suas formas de interação social.
Embora óbvios, nem sempre os gestores de uma empresa conseguem alinhar e harmonizar tais ingredientes. Aquilo que se constitui a base de uma organização muitas vezes não é engendrado de forma equânime.

ALIANÇAS CORPORATIVAS

Recentes transformações, ocorridas no mundo do trabalho, são responsáveis pelo surgimento de situações não concebidas, até recentemente, por atores desse processo: alianças entre capital e trabalho, visando a consecução de interesses convergentes. Recebendo denominações diferenciadas, como de remuneração variável, participação nos lucros, bônus, participação em resultados, prêmio por produtividade, etc., essas iniciativas resultam na maior aproximação entre organizações e seus empregados, na busca comum pelo aumento da produtividade e da remuneração tanto do capital quanto do trabalho.
São modelos de gestão que quebram paradigmas, fortalecem a gestão com foco em resultados e no atendimento às necessidades dos clientes, partilhando tanto bons como maus resultados. Bons, se alinharem ações programáticas às diretrizes estratégicas da organização, no alcance a metas desafiadoras, porém factíveis, que gerem superávits financeiros e a ação participativa. Maus, se não houver, na organização, cultura de resultados e alto desempenho, transparência, objetividade e delegação de poderes.
Os modelos de gestão por resultados são, normalmente, acompanhados por indicadores de desempenho, tanto organizacionais quanto funcionais, validando diferentes tipos de recompensa: funcional, por habilitação, por resultados ou por complementação salarial. As escalas de premiação são variáveis, de acordo com o grau de dificuldades estabelecidas para as metas fixadas e disponibilidade de recursos para premiação de resultados aquém ou além de metas estabelecidas.
Essas ferramentas, já disseminadas amplamente entre as grandes empresas nacionais, não transcendem às discussões político-ideológicas, nem mesmo estão na razão direta de oferecer caminhos alternativos ao modelo econômico vigente, mas, por certo, colocam a empregabilidade em novo patamar, trazendo modificações aos conceitos de competência, atitudes e valores humanos e profissionais, que passam a ser vistos, agora, como “prontidão do capital humano”, medindo o grau de preparo na execução de funções e assumindo, como nova tarefa, fazer remunerar, conjuntamente, tanto capital, quanto trabalho.

Empregabilidade

Denomina-se de Empregabilidade a capacidade de um profissional ascender a um posto de trabalho, em organizações que se encontram no nicho de mercado onde atua, e trabalhabilidade a sua capacidade de manter-se ativo no mercado de trabalho. Ambas as denominações assumem uma conotação dinâmica, na mesma medida em que as organizações, hoje, encontram-se em constantes transformações, frente à excelência empresarial.

A conquista de um posto de trabalho, para quem já esteve no mercado, nem sempre é fácil e rápida. Constitui um equívoco, para um profissional que procura emprego, achar que vai encontrar um novo posto de trabalho nos mesmos moldes em que deixou o seu, contendo os mesmos requisitos e adequado às suas habilidades, conforme dispunha em seu último contrato de trabalho.

Com o avanço tecnológico, a cada momento são exigidas novas habilidades ao trabalhador, que se encaminha para a necessidade de desenvolver competências multifuncionais. Ao ser desligado de uma Empresa, seus gestores estão lhe dizendo claramente que sua empregabilidade não mais se harmoniza com as expectativas empresariais daquela organização.

O recado é claro e, independente de seu nível de instrução, ele o entende, o que acarreta, muitas vezes, a perda de sua autoestima e a indefinição de rumos a seguir. Pesquisas desenvolvidas por empresas especializadas comprovam que o tempo médio, para um trabalhador disponível no mercado, voltar a ver a sua carteira profissional assinada é de cerca de um ano.

Em lugar de o trabalhador refletir sobre sua condição, às vezes opta por buscar, intempestivamente, oportunidades oferecidas através de veículos disseminadores de oportunidades: blogs, sites, anúncios, murais, serviços sindicais, empresas governamentais de agenciamento, empresas de recursos humanos, editais, dentre tantos outros.

O momento exige reflexão, autoconhecimento, validação de sua estima, mas, principalmente, validação de suas competências e habilidades. Até recentemente, as equipes de recrutadores perguntavam a seus candidatos: “o que a nossa empresa pode fazer por você”? Hoje elas perguntam: “o que você pode fazer por nossa empresa?” “De que forma você pode contribuir para gerar valor agregado à empresa?” Em outras palavras: o trabalhador, seja qual for a sua formação ou posto que postula, deve ajudar efetivamente a empresa a alcançar um ou os dois postulados maiores: gerar lucro e fazê-la manter-se ativa no mercado.

A crise econômica existe e a recessão ainda manterá os seus tentáculos sobre o mercado de trabalho. Mas ela não conseguirá destruir os mais competentes e preparados, que sobreviverão a ela. São exatamente esses momentos de crise que possibilitam as melhores oportunidades para atualização das competências profissionais, a melhora da empregabilidade e a trabalhabilidade de um trabalhador. Na hora de fazer a sua revisão, o trabalhador, disponível ao mercado de trabalho, poderá atentar para alguns pontos considerados importantes à sua análise:

• Deixar de se preocupar com o problema do desemprego e mover toda a sua atenção à busca de soluções para renovar a sua trabalhabilidade;
• Descobrir os pontos fracos e validar os pontos fortes de sua empregabilidade;
• Procurar estabelecer estratégias para corrigir pontos fracos e evidenciar pontos fortes, baseando a sua excelência em diferenciais que contenham qualidades e conhecimentos que dificilmente outro candidato venha a possuir;
• Desenvolver habilidades para conviver com ambientes de trabalho em constantes transformações;
• Canalizar a sua competência no desenvolvimento de multifuncionalidades;
• Não se preocupar em distribuir cópias de currículum aleatoriamente, mas selecionar cuidadosamente os nichos que pretende atuar, onde você possui maior experiência e onde pode se tornar mais competitivo;
• Procurar identificar quais os conhecimentos básicos, solicitados por essas empresas;
• Organizar o seu currículum colocando, de forma objetiva, não só os cargos mas as experiências adquiridas, destacando ações desenvolvidas que poderão despertar o interesse de recrutadores;
• Procurar conhecer e levantar o maior número de informações sobre o perfil da empresa a qual pretende candidatar-se, sobre os segmentos e sobre o mercado onde atua;
• Se a Empresa mantiver, na internet, um site, procurar visitá-lo e levantar o maior numero de informações disponíveis;
• Estabelecer um projeto profissional bem definido e destacar de que forma a empresa, onde postula um emprego, pode estar inserida em seus planos e de que forma pode contribuir, com o seu trabalho, para melhorar a sua posição no ranking de organizações concorrentes;
• Estabelecer claramente o seu futuro desejado, não se intimidando com as perguntas formuladas pelos recrutadores, formulando respostas claras, objetivas e sempre agir com segurança e confiança em relação a sua trabalhabilidade e a sua empregabilidade.

Stephen Covey, autor de inúmeros best-sellers internacionais, em seu livro: “Os 7 hábitos das pessoas altamente Eficazes”, parafraseando Peter Drucker, afirma que “as pessoas eficazes não vivem voltadas para os problemas, elas vivem voltas para as oportunidades. Elas alimentam oportunidades e deixam os problemas “morrer de fome”. Elas pensam preventivamente. Elas enfrentam crises e emergências genuínas, que exigem sua atenção imediata.

Os profissionais que se encontram em seu momento de virada também podem inspirar-se na frase dita por Soren Kierkegaard: ”A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente”.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Desemprego: o que os números não mostram

Estamos longe de uma saída igualitária para todos os setores atingidos pela crise econômica mundial. Iniciada durante o último ano, pelo colapso do mercado imobiliário subprime norte-americano e a conseqüente supressão de crédito, a crise revela remédios diferenciados em seu combate. Países atingidos por seus efeitos adotam o mesmo modelo norte-americano, anunciado pelo Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, de resgate do sistema financeiro através da ajuda aos bancos, que estão em dificuldades, o que envolve um gasto de U$1.5 trilhão, visando melhorar a oferta de crédito no país.
É o Pacote de Estabilidade Financeira, uma espécie de fundo de investimento público e privado, que irá comprar papéis podres de instituições em dificuldades. Seus efeitos sociais são altamente discutíveis e sua eficácia catalisadora mundial colocada em cheque, uma vez que, quem não especula, acaba levando a pior.
Os números já revelam os efeitos desta verdadeira dicotomia. Segundo o jornal A GAZETA, de Vitória, edição do dia 21 de fevereiro, o IBGE reconhece que, durante o mês de janeiro do corrente ano, o aumento do índice de desemprego somente é comparável a janeiro de 2002, quando foi iniciada a Pesquisa Mensal de Empregos (PME). Nas regiões metropolitanas, a variação passou de 6,8%, registrada em dezembro, para 8,2% no mês seguinte.
O mesmo acontece em relação ao contingente de desocupados, 20,6%, entre dezembro e janeiro, foi considerada, pelo IBGE como sendo a maior de toda a série, havendo redução 2,1%, a maior para um mês de janeiro.
Estamos somente no início do processo, aferindo os primeiros resultados da queda de vendas, e, à medida em que elas continuarem a cair, também será acirrado o ritmo de demissões.
O que os números não mostram e fica subjacente às estatísticas é o que acontece na vida de um cidadão que perde o seu emprego. O chão desaba, a sua auto-estima fica abalada e há a perda de rumos em relação ao seu futuro.
A psicóloga Laura Marques Castelhano, coordenadora das atividades de pesquisa da ONG “Amigos do Emprego” relata o resultado de seu convívio com os ex-empregados. Para ela a frase "Eu tenho uma doença contagiosa: sou um desempregado", expressa - em poucas palavras - o sofrimento, a marginalização, o sentimento de impotência e, por que não dizer, a culpa que muitos desempregados sentem por se encontrar nessa situação. A analogia entre desemprego e doença contagiosa é muito comum nos relatos de profissionais desempregados; é um sentimento expresso, constantemente, que deve ser analisado com muito cuidado”.
E ela acrescenta: “Não é incomum vermos os tipos ideais estampados em anúncios de revista, principalmente aquelas que são direcionadas para o público que trabalha na organização. Crescemos ouvindo que "O trabalho enobrece o homem" e que "Só não trabalha quem não quer", evidenciando uma valorização e uma cobrança social que só reconhecerão quem trabalha e um tipo específico de trabalhador, já que não é qualquer trabalho que é valorizado e reconhecido socialmente”
E conclui: “Nitidamente, o emprego institui e define um papel social. Ter um emprego faz com que o sujeito se sinta parte de um projeto coletivo que, quando perdido, põe em cheque sua contribuição social e seu lugar na sociedade.
Por isso o desempregado é colocado numa categoria de margem à sociedade. Ele é visto como um marginal, como pária. Julgado por sua situação e terá que lidar com a hostilidade e a rejeição!”
Vale lembrar que 16% da população mundial já vivia, até a crise, em situação abaixo da linha de pobreza, não tendo sequer o que comer. E não por falta de oferta de alimentos no mundo, mas por falta de dinheiro para comprar comida.
Há uma linha demarcatória tênue, entre capital e trabalho, ameaçada pelas especulações, ambições e incongruências. Fora das estatísticas, há que se acabar com os preconceitos, gerar ações pró-ativas e estimular essas pessoas à mudança de atitude, porque, muitos dos que hoje estão empregados, amortecidos por seu status quo, poderão, pela inércia, fatalmente, serem os próximos,