segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Informações Inúteis


Todos nós lidamos, durante nosso dia-a-dia, com um volume incalculável de informações, seja pela internet, pela televisão, pelo rádio, pelo celular (torpedos), pelo tablet ou quaisquer outros veículos, utilizados por nós para alimentar nossas rotinas. Tamanho volume, tamanha preocupação em separar o joio do trigo. Como saber, entre todas, as que nos serão mais úteis e favoráveis para nos auxiliar a realizar nossos propósitos? Como ter certeza se uma informação é absolutamente inútil e deve ser, portanto, descartada por não agregar valor ao que estamos fazendo?
Quem nunca passou por esse monólogo?

E aí me pergunto: o que vem a ser “informação inútil?”.

Durante a última sexta-feira, em pleno feriado, assisti ao Programa do Jô, quando entrevistava Charles Watson, professor de artes plásticas da Escola de Artes Visuais Parque Laje, no Rio de Janeiro, e me senti impulsionado a mergulhar neste tema, tão pouco tratado pela mídia brasileira.
O tema principal era sobre o processo de criação. A questão informação inútil apareceu na conversa por acaso, mas suficientemente capaz de me fazer interessar pelo assunto.

Para Charles Watson, as informações estão integradas a sistemas e esses, por sua vez, podem produzir informações que consideramos inúteis. Para isso ele pergunta: o que é produzir informação inútil? E ele mesmo responde: “informação inútil é aquela que ainda não entendi como pode ser usada para resolver problemas. Portanto, ele explica, não existe informação inútil”.  
Em outras palavras entendi que informação considerada inútil é aquela que ainda não aprendemos a lhe dar um uso para resolução de problemas aos quais estamos ligados, no que concordo.

Artista Plástico e professor de artes, têm se interessado por processos de criatividade em processos de pintura, assim como a geração de informações em processos criativos. “No Brasil, principalmente, diz ele, há uma crença de que a criatividade está associada à emoção, uma realidade que refuta. Como professor têm se perguntado: quem são as pessoas capazes de codificar emoções? Para ele, o talento tem pouca importância no processo de criação, mas está ligado ao ato de acordar. “Arte não tem finalidade, mas consequências”explica ele. Para isso é necessário dedicação.
Por isso as pessoas consideram algumas informações inúteis. Porque se esquecem que o processo é o fim. “Não é algo que está lá fora. Faz parte do processo. Isso é consequência”, explica ele. E continua: “estranho que os alunos das escolas brasileiras não estejam acostumados a colocar a mão na massa. No Brasil, primeiro definimos para onde ir para depois comunicar uma ideia. Nós saxônicos não dissociamos conceber do fazer. Às vezes falamos para identificar para onde queremos ir. A ideia se processa ao longo do processo.

Entendi, em suas palavras, se é que consigo interpretar seu pensamento, que o processo de criação não se d[a a partir de informações segmentadas, mas através de um pensar/colocar em prática simultâneos, unindo o que quero, para onde vou e o que estou criando.

Isso pode parecer um tanto filosófico, porém existencial.
Assistindo aquela entrevista levei a questão para outro lado. O principal foco da questão não é saber classificar informações, mas quem a classifica. Não há como separar informações importantes ou inúteis sem saber antes, o que é importante em minha vida. O que quero de minha vida. Para onde quero levá-la. Aí sim fica mais fácil lidar com informações, simples ferramentas capazes de facilitar a concretização progressiva dos rumos que queremos dar à nossa existência.

Para validar esse pensamento fiz um exercício prático: fui buscar, em meus arquivos pessoais, muitas informações guardadas ainda sem uso. E fui me perguntando qual o significado de cada informação em meus projetos de vida. E logo-logo me desfiz de uma boa quantidade delas. Pois havia entendido que deveria alinhá-las como consequência de meu projeto de vida e não o contrário: arrumar um projeto de vida para justificar suas existências em meu acervo.
Significa ir de encontro à tendência natural que temos de seguirmos acumulando coisas, entre elas informações, para, a partir delas, chegarmos a compreender quem somos. Em vez disso, devemos inverter o curso para a busca de sabermos quem somos e para onde queremos ir. A vida acontece enquanto a construímos e não enquanto estamos tentando entender para que ela existe e para que ela serve.