Todos nós
lidamos, durante nosso dia-a-dia, com um volume incalculável de informações,
seja pela internet, pela televisão, pelo rádio, pelo celular (torpedos), pelo
tablet ou quaisquer outros veículos, utilizados por nós para alimentar nossas
rotinas. Tamanho volume, tamanha preocupação em separar o joio do trigo. Como
saber, entre todas, as que nos serão mais úteis e favoráveis para nos auxiliar a
realizar nossos propósitos? Como ter certeza se uma informação é absolutamente
inútil e deve ser, portanto, descartada por não agregar valor ao que estamos
fazendo?
Quem nunca passou
por esse monólogo? E aí me pergunto: o que vem a ser “informação inútil?”.
Durante a última
sexta-feira, em pleno feriado, assisti ao Programa do Jô, quando entrevistava Charles
Watson, professor de artes plásticas da Escola de Artes Visuais Parque Laje, no
Rio de Janeiro, e me senti impulsionado a mergulhar neste tema, tão pouco
tratado pela mídia brasileira.
O tema principal
era sobre o processo de criação. A questão informação
inútil apareceu na conversa por acaso, mas suficientemente capaz de me
fazer interessar pelo assunto.
Para Charles
Watson, as informações estão integradas a sistemas e esses, por sua vez, podem
produzir informações que consideramos inúteis. Para isso ele pergunta: o que é
produzir informação inútil? E ele mesmo responde: “informação inútil é aquela que
ainda não entendi como pode ser usada para resolver problemas. Portanto, ele
explica, não existe informação inútil”.
Em outras
palavras entendi que informação considerada inútil é aquela que ainda não aprendemos
a lhe dar um uso para resolução de problemas aos quais estamos ligados, no que
concordo.
Artista
Plástico e professor de artes, têm se interessado por processos de criatividade
em processos de pintura, assim como a geração de informações em processos
criativos. “No Brasil, principalmente, diz ele, há uma crença de que a criatividade
está associada à emoção, uma realidade que refuta. Como professor têm se
perguntado: quem são as pessoas capazes de codificar emoções? Para ele, o
talento tem pouca importância no processo de criação, mas está ligado ao ato de
acordar. “Arte não tem finalidade, mas consequências”explica ele. Para isso é
necessário dedicação.
Por isso as
pessoas consideram algumas informações inúteis. Porque se esquecem que o
processo é o fim. “Não é algo que está lá fora. Faz parte do processo. Isso é consequência”,
explica ele. E continua: “estranho que os alunos das escolas brasileiras não
estejam acostumados a colocar a mão na massa. No Brasil, primeiro definimos
para onde ir para depois comunicar uma ideia. Nós saxônicos não dissociamos conceber
do fazer. Às vezes falamos para identificar para onde queremos ir. A ideia se
processa ao longo do processo. Entendi, em suas palavras, se é que consigo interpretar seu pensamento, que o processo de criação não se d[a a partir de informações segmentadas, mas através de um pensar/colocar em prática simultâneos, unindo o que quero, para onde vou e o que estou criando.
Isso pode
parecer um tanto filosófico, porém existencial.
Assistindo
aquela entrevista levei a questão para outro lado. O principal foco da questão não
é saber classificar informações, mas quem a classifica. Não há como separar
informações importantes ou inúteis sem saber antes, o que é importante em minha
vida. O que quero de minha vida. Para onde quero levá-la. Aí sim fica mais
fácil lidar com informações, simples ferramentas capazes de facilitar a
concretização progressiva dos rumos que queremos dar à nossa existência.
Para validar
esse pensamento fiz um exercício prático: fui buscar, em meus arquivos
pessoais, muitas informações guardadas ainda sem uso. E fui me perguntando qual
o significado de cada informação em meus projetos de vida. E logo-logo me
desfiz de uma boa quantidade delas. Pois havia entendido que deveria alinhá-las
como consequência de meu projeto de vida e não o contrário: arrumar um projeto
de vida para justificar suas existências em meu acervo.
Significa ir
de encontro à tendência natural que temos de seguirmos acumulando coisas, entre
elas informações, para, a partir delas, chegarmos a compreender quem somos. Em
vez disso, devemos inverter o curso para a busca de sabermos quem somos e para
onde queremos ir. A vida acontece enquanto a construímos e não enquanto estamos
tentando entender para que ela existe e para que ela serve.