quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Buracos nas Estradas ou Estradas nos buracos?



Os motoristas que circulam pelas rodovias BR-280, BR-153 e BR-476, na divisa entre os estados de Santa Catarina e Paraná, cansaram de esperar pelas ações do Poder Publico e adotaram uma forma inédita de lidar com os incontáveis buracos existentes na cobertura asfáltica dessas estradas.


Contando com a ajuda de algumas prefeituras passaram a pintar de branco os buracos existentes, como forma de torná-los visíveis à distância, principalmente durante a noite. Só assim conseguem andar de forma serpenteada e desfrutar do resto de cobertura asfáltica ainda existente naquelas paragens.


Durante esta semana estive circulando pela Rodovia BR 280, trecho entre os municípios de Porto União e Caçador, e registrei essa maneira inusitada de aplicar o famoso “jeitinho brasileiro” para tratar da omissão do Estado brasileiro (foto de minha autoria).

Segundo informações de moradores, alguns buracos, existentes na BR-153, estão lá desde 1983, sem que os sucessivos e principais gestores do Poder Público tenham equacionado o problema. Já aqueles motoristas que circulam pela rodovia BR-476, trecho entre São Mateus e Curitiba, trafegam por excelentes rodovias, em bom e durável asfalto, com acostamentos largos e sinalização adequada. Porém são obrigados a pagar pedágio, na altura de Palmeiras, cujos preços oscilam entre R$7,00 e R$8,00, para trafegarem por, aproximadamente, 60 quilômetros.

Remanescentes do período de governo de Jayme Lerner, esses trechos oferecem maior segurança aos transeuntes, porém oneram os bolsos daqueles que viajam periodicamente por trechos pagos. Trata-se de uma bi-taxação, já que contribuem, anualmente, com impostos para conservação de rodovias pavimentadas, através do Sistema Nacional de Trânsito.

O quadro observado somente referenda o que vem mostrando, anualmente, a Pesquisa Anual realizada pela Confederação Nacional do Transporte, desde 1995, que traz um diagnóstico completo de 100% da malha rodoviária federal pavimentada e os principais trechos sob gestão estadual e sob concessão.
No ano de 2009, o estudo apresentou uma conclusão perigosa: a maioria das estradas brasileiras está no limite. Cerca de 69% das rodovias estão enquadradas em situação regular, ruim e péssima. Apenas 31% das estradas apresentaram condições boas ou ótimas. 

Em relação às condições de pavimento, a Pesquisa assinalou que 54,2% das estradas estão em situação regular, ruim e péssima.  Novamente, três entre 10 estradas brasileiras apresentam condições boas ou ótimas. Em termos de sinalização, 63,9% das rodovias foram consideradas regulares, ruins e péssimas. As estradas em condições ótimas ou boas chegam a 36,1%. Na geometria analisada pela pesquisa, o número de estradas em condições péssimas, ruins ou regulares aumenta.  No Brasil, 79,8% das vias estão nestas condições. Apenas 21,1% estão em boas ou ótimas condições.

Em termos comparativos, em relação a anos anteriores, a Pesquisa revelou uma melhora no quadro geral, da ordem de 4,6% no que tange às estradas em situação ruim, péssima ou regular. E na sinalização, o estudo mostra que houve queda de 7,1% nas estradas com condições ruins, péssimas ou regulares.

Em relação à situação por região, o estudo mostra que, no sudeste, 45% de estradas foram consideradas boas ou ótimas. Na outra ponta, está a região norte, com 93,7% das rodovias em condições regulares, ruins ou péssimas.

Entre as rodovias sob gestão pública, 77,6% não apresentam boas condições para os motoristas e o restante (22,4%) tem boa trafegabilidade. No caso das rodovias privatizadas, a situação se inverte: 76,5% estão em boas condições e 23,5% apresentam problemas.

As informações, de caráter institucional, dão conta de que as piores estradas estão na região Norte. Mais de 90% das estradas apresentam más condições. A situação mais crítica é no Amazonas, que tem toda a malha rodoviária considerada como regular, péssima ou ruim. Em seguida, está o Acre, que tem 98,7% das estadas em condições precárias. Roraima foi o que teve a maior parte das estradas avaliadas como ruins (43,6%) - a BR-210 foi considerada a pior estrada no estado.

Segundo informações divulgadas através do site WWW.primeiramao.com.br o estudo da CNT contou com 16 equipes para avaliar 89.552 km de rodovias, sendo 60.784 km federais, 28.768 km estaduais e 14.215 km concedidas. O tempo de avaliação da pesquisa foi de 45 dias de trabalho.

Quem paga?

A par do aumento, durante os últimos anos, do volume de investimentos públicos em rodovias, eles são insuficientes para fazer frente às necessidades de adequação e ampliação da malha viária, isso sem contar com os constantes problemas de paralisação de obras.

Segundo as mesmas fontes, são necessários cerca de R$ 32 bilhões para manter, reconstruir e restaurar as rodovias, isso contando com a boa vontade política e a aplicação sistemática na reconstrução da malha rodoviária brasileira, dentro de um tempo não inferior a dez anos, segundo os cálculos da CNT.
Enquanto isso, à medida que as estradas apresentem maior depreciação, há, em contrapartida, um aumento da ordem de 28% no custo operacional de caminhões, elevação de até 5% no consumo de combustível, queda na velocidade operacional e maior emissão de poluentes, segundo dados da CNT.

Desde a década de 1980, a estrutura e os equipamentos de apoio ao desenvolvimento econômico carecem de uma resoluta ação governamental, visando acompanhar o crescimento industrial e a ampliação da circulação de mercadorias em território brasileiro. Nem mesmo o Governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que concluiu seus oito anos de mandato como o chefe de Estado mais bem avaliado do mundo (87% entre os entrevistados - segundo levantamento feito também pela Confederação Nacional dos Transportes – CNT, em parceria com o Instituto Sensus) deixaram de ser tímidos em relação a investimentos neste setor.

Pelo andar da carruagem, pintar buracos de branco pode se constituir mais do que uma medida cautelar contra acidentes, para se converter em verdadeira ironia frente ao descaso, que se traduz na pergunta mais óbvia a ser feita: Buracos nas Estradas ou Estradas nos buracos?