quinta-feira, 24 de setembro de 2020

O Blog e a Pandemia

 Hoje acordei pensando em quanto tempo já faz,  desde a ultima vez que publiquei um  artigo neste Blog. Por ironia, o último artigo publicado trata exatamente disso: do tempo. De um lado, lembro-me de um pensamento esotérico que diz: " O tempo apenas é. O passado é o presente e o presente é futuro. Tudo é". Não há separatividade. A vida é uma abstração, pois logo ali acaba. Deixamos aqui tudo o que temos e levamos apenas o que somos. E, só o ser, creio eu, está além do tempo. Por isso nada melhor do que trabalhar o ser, enquanto estamos dentro da temporalidade. 

De outro lado, lembro-me que estamos em plena pandemia, responsável por mudanças nas relações interpessoais, relativizando os contatos presenciais e dando ênfase nas interações através das redes sociais. O que antes do isolamento já se afigurava uma possibilidade, com a pandemia se tornou uma condição inexorável. A sociedade da informação diversificou seus canais de comunicação, permitindo a complementariedade das mídias,  em lugar da competição entre elas. Quem tem Facebook, passou a usar, também, WhatsApp, sem deixar de dar uma "olhadinha" no Instagram, no twiter ou no Likedin. Isso sem contar o surgimento de novas mídias que a cada dia buscam seu espaço no universo de informações disponíveis. 

A quantidade de informações em espaços cada vez menores, atende a um universo de usuários que desejam rapidez na troca dos chamados posts. Espaços estão se abrindo e se diversificando para quem deseja ouvir e, principalmente, se manifestar. Cada vez mais procura-se espaços interativos, onde se expor pontos de vistas, onde se almeja tornar-se formadores de opinião. Mais do que a troca de informações, muitas vezes a intenção é fazer-se ouvir e, na medida do possível, permitir-se ouvir. 

O temário é amplo e diversificado. Mas, entre eles, a política, o futebol e os problemas pessoais marcam a sua presença. O ser humano é gregário e uma de suas principais necessidades, tão essencial como o ar que respira, a comida que o alimenta e a água que o hidrata, é ser aceito por seus semelhantes. Dessa forma, em tempos de pandemia, mais do que nunca busca, através das redes sociais, pessoas que tenham a mesma identidade de pensamento. Na mesma medida rechaça toda a forma de pensamento que não se encaixa naquilo que acredita. 

Tenho assistido, e em especial em tempos de pandemia, relações familiares e círculo de amigos, boas amizades terminarem em função de antagonismos na formulação de visões de mundo. No momento atual isso tem acontecido muito em relação às questões de caráter político-ideológico. Antagonismos resultam em intolerância e na ruptura dos laços afetivos. Fazer prevalecer opiniões reforça o ego e dá uma falsa impressão de sentir-se aceitos.

Mas, na realidade, o ser humano está procurando fora o que deveria procurar dentro de si. Trabalhar com um número excessivo de informações, relacionar-se com inúmeras pessoas, muitas delas fora de seu campo relacional não constrói uma vida interior. Pois, quando cessam, por algum motivo, essas interações, o ser humano sente um vazio, um espaço a ser preenchido. Adentrar em si mesmo é uma tarefa árdua, que muitos evitam. Então faz-se ruídos exteriores, para não se ouvir o silêncio interior. Para viver uma vida interior é preciso, primeiro, reconhecer que há uma vida interior. Pois tudo começa no silenciar a mente para se chegar à compreensão do ser. 

Enquanto nos alimentamos de uma mente ruidosa, deixamos que nossos pensamentos e ações nos alimentem. nos esquecendo que, no mundo da matéria tudo passa. No universo interior tudo é perene. No entanto, não posso condenar aqueles que se alimentam do passageiro, pois isso constitui um estágio de vida e tornar-se gregário não é necessariamente um caminho errado. É somente um caminho. até que compreendemos, por sucessivas experiências que o todo é maior do que as partes. Que sou muito mais do que pensamentos produzidos em cada capítulo de nossa história. 

Ao buscar a retomada deste Blog tenho me perguntado se iniciativas como essa, um Blog, ainda têm espaço no contexto informacional atual, em plena pandemia. Evidentemente que as circunstâncias limitam muito o número de usuários, correndo o risco de seguir a sua decadência. Afinal, no universo tudo se transforma. Escrever um artigo em um Blog não é mais do que exercer um monólogo. E sempre as experiências relatadas, se sinceras, servem de referência para outros que também buscam a verdade no interior de si mesmos. Por tudo isso, creio que o Blog ainda tenha o seu espaço. E aqui estou eu dando continuidade ao que escrevo. Ainda que seja dirigida apenas a um leitor: eu. Afinal este alguém conversa consigo e o resultado está aí para quem mais desejar compartilhar de algo que sai de dentro e procura compartilhar com outro alguém que também busca sua dimensão interior.