segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Texto enxuto?

Há pouco tempo comentava com uma pessoa próxima que o assunto ao qual estávamos tratando deveria se converter em artigo, a ser publicado em meu Blog. Essa pessoa olhou-me atentamente nos olhos e me disse:

“Ah! Ótimo! Mas não escreva muito”... “Faças um texto bem curtinho”...

Nada lhe respondera naquele momento. A conversa encerra-se ali mesmo, após aquelas interjeições. Porém não consegui tirar aquelas reticências de minha mente: "escrevas curtinho"...

Eu, que estava acostumado a elaborar textos para revistas e jornais, sujeitando-os à constrição dos espaços, medidos em picas ( se lê “paicas”) ou cíceros, e achara que havia me libertado daquela “ditadura”,  agora me sintia solapado em minha criatividade.

“Escreva com conteúdo, faças as suas reflexões, mas sejas prático, sintético e objetivo”, era a mensagem subjacente que recebera.

Comecei a pensar na quantidade de leitores, que vi esparramados pelas livrarias, às quais costumo freqüentar, pegarem um livro e olharem-no de trás para diante, para ver quantas páginas deveriam “enfrentar” para digerirem o que o autor quis dizer.

- Eu vou ter que ler tudo isso? Onde vou arrumar tanto tempo? Peraí, eu vou trocar por um livro mais fininho, e, assim, não terei que gastar tanto tempo em cima deste.

Também pensei naqueles que costumam folhear um livro para ver se tem ilustrações, a fim de tornar a sua leitura mais espaçada e amena. Menos indigesta. 

Pensei naqueles procrastinadores (às vezes me torno um deles) que deixam uma pilha de livros em suas cabeceiras para, quando houver tempo, digeri-los em verdadeiros “atos de sacrifício”.

Pensei nos orkuts e facebooks cuja economia de letras tenta expressar melhor os conteúdos a que retratam, onde a concisão é tão mais apreciada do que a retórica da reflexão desmedida ao longo de páginas mais volumosas.

Será que é por isso que as pessoas não visitam o meu espaço digital?

O mundo tem pressa. Ninguém mais tem tempo para ler obras extensas. Mas será que a busca frenética pela síntese e pela concisão não nos está levando para a superficialidade e a objetividade sem conteúdo?

Lembro-me de uma frase, dita pelo notável poeta Frederico Barbosa, em suas reflexões sobre “O Guarani”, de José de Alencar: “O Brasil não é um país de leitores. Nunca o foi. Poucos foram os momentos em que a literatura conseguiu atingir, entre nós, um público mais amplo do que um pequeno grupo intelectualizado e fechado. Mesmo os nossos mais celebrados e consagrados escritores, como Gonçalves Dias, Machado de Assis ou Carlos Drummond de Andrade, foram e continuam sendo lidos apenas por uma pequena elite mais interessada e informada. A maior parte dos leitores dos clássicos da nossa literatura parece estar reduzida, hoje, a colegiais que apenas os lêem para cumprir uma enfadonha tarefa escolar. Lêem obrigados, pela nota, e não pelo prazer da leitura”. 

Textos como esse, de autoria de Frederico Barbosa, me levam a pensar que possa existir, entre os que me visitam, em meu Blog, aqueles que dizem: “Puxa, recomendaram-me visitar este Blog, mas o cara escreve muito extenso. Não tenho tempo para isso. Vou fechá-lo e, depois, quando houver tempo sobrando, eu volto para digerir esses “bifes”que ele escreve”.

E, sinceramente, me sinto pensativo, quando vejo Frederico Barbosa afirmar:    

“Grandes criadores de ficção, como Machado de Assis ou José de Alencar, transformam-se, assim, em verdadeiros monstros, ainda que sagrados. Viram sinônimo de tortura, de chatice, de leitura imposta e cobrada. Um monstro é sempre um monstro: assustador. Um ser sagrado não deve ser tocado, curtido, lido. Deve ser reverenciado a distância, no altar ou na estante - intocado e fechado.
         Perde-se de vista que um Machado ou um Alencar, que sempre procuraram deleitar e divertir os seus leitores, escreviam para serem consumidos, não para serem reverenciados. Para que o leitor se aproxime de um clássico, sem medo e sem reservas, é preciso que saiba que nem sempre foi um clássico. Muitas vezes foi um livro revolucionário e polêmico. Alguns foram até obras extremamente populares no seu tempo, como as peças de Shakespeare,  que chegou a ser acusado, por seus contemporâneos, de ser um escritor apelativo e popularesco.
        
          O Guarani é um clássico. Uma das obras mais importantes da literatura brasileira. Mas que isso não assuste nem afaste o leitor. O Guarani foi, antes de mais nada, um dos maiores sucessos de público da história da nossa literatura. A maior parte dos jovens, que hoje tremem ao saber que terão de ler O Guarani como dever escolar, talvez não se sentissem tão ameaçados  se soubessem que houve época em que milhares dos seus semelhantes se reuniam nas repúblicas estudantis, por todo o Brasil,  só para ouvir a leitura emocionada das aventuras narradas por Alencar.  Como hoje fazem fila para assistir aos filmes de Steven Spielberg ou aguardam ansiosamente o capítulo final de uma novela de televisão”. 

Sinceramente não me conforta saber que este Blog não se constitui uma honrosa exceção, mas, sim, que tal observação, feita por aquela pessoa, sirva de alerta para o que acontece hoje no Brasil, em relação à leitura e seus brasileiros. E me pergunto: “quem realmente teria que mudar: o escritor, para suprir a “falta de tempo” dos leitores ou os leitores, para despojarem-se de seu pragmatismo de encontrarem as coisas prontas, para seus pensamentos pouco elaborados e, enfim, passarem a mergulhar num mundo de palavras e reflexões?

Lembro-me que, recentemente, o jornal A Gazeta de Vitória teve que mudar o seu projeto gráfico, acabando com as chamadas matérias de página inteira, reduzindo-as para meia página, fruto de uma pesquisa, junto aos seus leitores, cuja maioria alegara “falta de tempo” para consumir textos preparados por profissionais que elegeram a investigação jornalística como meio de expressão comunicativa.

Fico a imaginar como seria se Erico Veríssimo tivesse que escrever a sua famosa obra “O tempo e o vento” para ser publicada no twitter, ou Monteiro Lobato para escrever as suas obras completas, publicadas em 1956, ou mesmo Gabriel Garcia Marques em seu “Cem anos de solidão”, ‘A história de minha vida”de Charles Chaplin ou mesmo, a obra recente de “O Senhor dos Anéis” de J.Tolkien”, livros que hoje não cabem nas econômicas estandes de uma  sala, quanto mais nos limitados 140 caracteres do Twitter.

O mundo mudou porque a praticidade de quem faz leitura mudou. Por isso, mesmo correndo o risco de pagar um preço alto, continuo a me libertar das picas e dos ciceros, como um  rebelde com causa. É nessas horas que busco parafrasear à imortal Clarice Lispector que disse: “Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada. Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro”...

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

És Roberta, força telúrica em transmutação pelo ar




Nasceste fruto do amor compassivo.
Iniciaste a tua evolução como broto da esperança. 
Viveste a tua infância entre quereres e, de pouco a pouco, alcançaste a plenitude de todo o teu ser, alma completa, que agora viceja amor, compaixão e plenitude.


Levar-te à pia batismal foi um privilégio, de poder presenciar a chama crística iluminar a tua alma. Acompanhar o teu crescimento significou testemunhar a construção, pouco a pouco, pelos teus pais, de um manto de amor para cobrir os teus ombros e te dar coragem para empreenderes a tua caminhada. 


Assistir a tua formatura foi o verdadeiro epílogo para uma trajetória à vida adulta, que transborda, nesta guerreira, a maturidade de uma mulher das  letras. 

És, assim, letra e música. 

Em tuas letras, aprendeste a recitar a ode da transformação e a pedagogia da concretude humana. Em tua música a liberdade da expressão e a verdadeira dimensão de crer um mundo melhor. 

Em tua melodia és Roberta, que assim és, assim fostes e assim serás, aquela que vive a eterna formatura de estar sempre um passo a frente daqueles que um dia te pegaram pela mão, para chegares, hoje, à condição de mulher completa e fonte de inspiração para todos os que testemunharam colocares a toga, que te guiará pelos caminhos de tua existência.

Dindo