quarta-feira, 2 de março de 2011

Alquimia

Senhor! Graças por me dar a força e a convicção para completar a tarefa que me foi incumbida.  Agradeço por me guiar através da retidão pelos inúmeros obstáculos no meu caminho. E por me manter firme, quando tudo parecia perdido. Pela proteção e pelos muitos sinais pelo caminho. Graças pelo bem que tenha feito e perdão por algum mal. Agradeço pela amiga que fiz. Olhe por ela como tens olhado por mim. Agradeço por permitir meu descanso, afinal. Estou muito cansado. Agora descanso em paz, sabendo que fiz o bem em meu tempo na terra. Eu combati o bom combate. Cheguei ao fim da corrida. Eu mantive a minha fé.
        Do filme: O Livro de Eli.

 

Essa oração foi proferida ao final de uma vida, cujo protagonista cumpriu com seus desígnios e, já moribundo, dirigiu-se a Deus para agradecer pelas graças recebidas, encontrando alivio depois de muitas lutas e descanso após enfrentar um caminho cheio de adversidades. É o ser humano artífice, que cria, recria e transforma a sua vida. Uma vida cheia de provas e também de aprendizados, capaz de alternar momentos de intensa fecundidade e prosperidade ao lado de outros marcados por adversidades e desafios. 


Nem sempre conseguimos ultrapassar com facilidade nossas adversidades. Não raro esbarramos em nossas limitações, principalmente quando nos vemos em pleno ciclo de prosperidade e a vida nos coloca, de forma compulsória, obstáculos que nos levam a perder, de forma inexorável, tudo aquilo que havíamos construído com esforço e determinação. E aí começa uma fase de provas e sacrifícios.


Quantas vezes nos sentimos completamente vencidos em nossas batalhas? Quantas vezes nos sentimos impotentes para fazermos frente aos obstáculos que surgem em nossos caminhos? Quantas vezes tentamos, incansavelmente, virar o jogo e em vão ficamos retornando à estaca zero? Quantas vezes sentimos perder o nosso livre-arbítrio, nos tornando cativos de um destino adverso que avança sugando nossas forças e roubando nosso entusiasmo?


Quantas vezes nos sentimos sem forças para levantarmos da lona e reiniciarmos nossa jornada de virada? Quantas vezes nos sentimos absolutamente impotentes e incapacitados de ingressarmos nas camadas mais sutis de nosso ser para lermos os sinais que a própria vida oferece? Quantas vezes deixamos a fé de lado, de acreditarmos em nós para virar o jogo de adversidades que assolam nossas vidas?


Nossas vidas obedecem a ciclos e muitas vezes estamos tão aferrados a uma etapa, apegados ao status quo vigente, que somos incapazes de reconhecer que chegamos ao final de uma estrada e é chegada a hora de nos lançarmos no futuro, desconhecido, de mãos vazias.


Essa é a hora de nos tornarmos artífices, deixando de olhar para fora e buscando um olhar interno capaz de produzir a verdadeira alquimia. Para uns, a Alquimia seria uma prática ligada à transmutação em ouro de meta-metais considerados inferiores. Para outros, seria a obtenção do Elixir da Longa Vida.


Outros, ainda, acreditam que alquimia seja uma fórmula de se obter a pedra filosofal, uma substância mística. Embora seja considerada ciência, por combinar elementos de Química, Antropologia, Astrologia, Metalurgia, Matemática também é vista como manifestação de Magia, Filosofia, Misticismo e Religião.


A Alquimia é considerada a precursora da ciência moderna, tendo sido disseminada na Mesopotâmia, no antigo Egito, no mundo islâmico, na América Pré Histórica, na China e na Europa. Para mim, é simplesmente uma representação simbólica associada às práticas de purificação espiritual.


Por mais diferenciadas que sejam as formas como vivemos, sempre estamos passando, a cada dia de nossas vidas, por transformações. Algumas sutis, que passam despercebidas de nossa consciência. Outras, pelo esforço e pelo sofrimento que envolve, deixam suas marcas indeléveis impressas em nossas almas para o resto da existência.


Deixarmos um ciclo e passarmos para outro implica em promovermos uma alquimia interior. Renovarmos a fé em nós mesmos, nos apoiarmos em nossas virtudes e utilizarmos nossos defeitos e limitações não para esquecê-los, mas para transmutá-los a fim de nos tornarmos pessoas mais completas. É a hora de passarmos pelo teste da persistência e da coragem de quem busca concretizar o seu destino existencial.


Somos verdadeiros guerreiros, empunhando suas espadas dotadas de duas lâminas. Uma serve para o bem e outra para o mal. Tudo depende de nossas escolhas. A espada simboliza nossa mente superior e está ligada às decisões que temos que tomar permanentemente em nossas vidas.


Quando tudo é adverso, é hora de buscarmos o poder interior para saber agir dentro dos princípios de ação e reação que regem essa lei cósmica imutável. Entrar em sintonia com o Universo e escolher, dentro todos os projetos existenciais, aqueles que mais se coadunam com o cumprimento de nosso destino. Pois, quando queremos algo acima das demais coisas, como se nossa própria vida dependesse de alcançá-lo, todo o Universo conspira a nosso favor. Para isso me lembro de uma frase, adotada por espíritas, que diz: “Deus dá assistência àqueles que agem e não àqueles que se limitam a pedir”.