quinta-feira, 14 de abril de 2011

O caminho certo

Nem sempre é fácil usarmos sabiamente o livre-arbítrio para alcançarmos uma dimensão mais ampliada de nós mesmos. Muitas vezes utilizamos falsas premissas para buscarmos o equilíbrio e a consciência que nos levem a uma relação mais harmônica com a natura, com as pessoas, com a possibilidade de transformar a nossa vida para podermos viver mais no amor, na paz e na harmonia.

Um querido Mestre Ascensionado conta a seguinte história, que reflete nossos enganos diante das escolhas que fazemos.

- Uma jovem era devota de São Francisco. Todo o dia, antes de iniciar suas tarefas, parava em frente ao seu altar, acendia sua vela e rezava fervorosamente ao seu protetor. Era tão devota que não começava nada, em seu dia, sem antes cumprir com seu ritual sagrado de orações. Certa vez, em um dia nublado e ventoso, seguia com seu ritual quando ventos fortes invadiram o recinto e apagaram a chama de sua vela. Tantas vezes ela acendera novamente a chama quanto os ventos apagavam o fogo que ardia.  Até que ela sentiu-se vencida pelo vento.

Pensando sobre as tentativas frustradas, concluiu que São Francisco poderia estar lhe dizendo que, naquela manhã, não desejava o seu rito de orações. Ela tratou de consolar-se, afirmando a si mesma ter feito a sua parte, mas fora impedida pelo que considerava um aviso para não seguir em frente.

Na verdade, o vento cumprira com o seu papel. Posto que não possui célebro, nem pensamento, fizera o que tinha que fazer: simplesmente soprar. Embora munida de três inteligências (espiritual, emocional e racional), teria que ter feito a leitura correta da situação. Teria de ter fechado as janelas ou simplesmente prosseguido com suas orações, em frente ao altar, sem a necessidade de usar a vela. Assim teria cumprido sua tarefa diária com devoção e desprendimento. A partir desse dia a devota passou a sentir a sua fé abalada, porque passou a achar que seria São Francisco quem deveria resolver aquela questão para ela. 

Quantas vezes, diante de uma dificuldade não examinamos adequadamente a situação e acabamos por tomar decisões precipitadas, afoitas, com base em falsos juízos ou com base no exame parcial da situação e, depois, buscamos justificativas para aplacar a nossa consciência, dizendo que a nossa parte havia sido cumprida. E, em ato contínuo, pedir a um ser de luz que resolva um problema que o seu fraco comprometimento e a sua visão distorcida lhes conduziram à inércia.

Quantas vezes nos dispomos a realizar um trabalho, impulsionados por nossas intenções, porém alicerçado em pouca perseverança e determinação, em pouca disposição para assumir responsabilidades e em pouca renuncia à nossa persona.

Muitas vezes, oramos erroneamente a Seres de Luz para agradá-los, quando o certo é seguir em direção à evolução a partir de nossas próprias escolhas. Trabalhar para a formação de uma consciência holística não implica somente em viver paixões e prazeres pessoais, mas assumir compromissos e comprometimentos. No caso da jovem, antes de pedir a São Francisco que corrija o seu erro, deveria trabalhar para alterar o seu estado de consciência.

Quantas vezes ficamos à espera de uma ajuda “superior”, à espera do milagre, para resolver nossos problemas, sem fazermos adequadamente a nossa parte. Quantas vezes pedimos aos seres de luz que nos atendam em nossas súplicas, sem atentar para o fato de que as escolhas são nossas.

Certamente nem São Francisco nem quaisquer outros seres de luz se negarão a fazer a sua parte. Mas não lhes cabe ficar julgando quem pode ter mais ou menos merecimento. Todos os seus fiéis seguidores formam uma grande irmandade voltada à realização da Obra Divina e todos se encontram em igualdade de condições, não por merecimento, mas segundo o seu grau de doação, partilha, entrega, comunhão.  

Em se tratando de São Francisco, todos os seus devotos devem procurar materializar o seu credo de fé: levar amor onde houver ódio, o perdão onde houver ofensa, a união, onde há discórdias, a fé onde há dúvidas, a verdade, onde houver erros, a esperança, onde há desespero, a alegria onde há tristeza, a luz, onde há trevas. Devem mais consolar do que serem consolados, compreender mais do que ser compreendido, amar que ser amado, doar, antes de receber, perdoar para ser perdoado, morrer para chegar à vida eterna.

Por isso, conforme lembra o Mestre, a verdade de um é a verdade de todos e a verdade de todos deve seguir a verdade de um. Se refletirmos, poderemos perceber que tudo está interligado e que, sozinhos ou isolados, não chegaremos a lugar algum. Todos nós fazemos parte de um contexto. Perda de um, perda de todos.

Assim como essa jovem, não devemos nos preocupar em realizar ações bonitas e importantes para mostrar ao Universo, para que sejamos, perante Ele, reconhecidos. Não devemos ficar a frente de uma vela, inertes, sem buscarmos nossas respostas certas, tentando, insistentemente acender a chama, para vermos um pouco mais, e, sem muito esforço, dizer que não conseguimos porque o vento a apagou. Isso implica em assumir atitudes que não nos levam a uma condição confortável, de ficar acomodado e fechado aos demais, circunscrito ao seu pequeno mundo, sem olhar para o que acontece à sua volta.

Se a busca é espiritual, orar é importante, cantar é importante, conhecer é importante, pedir é importante. Mas isso não é tudo. O mais importante é sentir-se unido aos demais, ser solidário, compassivo, como um verdadeiro guerreiro de luz. São essas atitudes os pilares de construção do Plano Divino, a que estão empenhados seres como São Francisco de Assis. Para os obreiros do Universo, o maior trabalho consiste em dar a assistência, a ajuda, como instrumentos de paz, de amor, de união.A oração de São Francisco reflete tal diretriz. 

Quem inicia uma caminhada espiritual sabe que não há volta. Não há como negar o que já se conhece de si, das próprias caminhadas e de outros, também. Para os homens adormecidos, uma vida comum, onde nascem, crescem, estudam, trabalham e têm filhos, mas não sabem o que fazem, somente respondem à estímulos. Sequer conhecem seus propósitos, seus inícios para justificarem seus fins.

Mas para aqueles que decidem acordar, dar auxilio, prestar ajuda, ser solidário representa a Páscoa, a partilha, o renascimento em tudo e em todos. É o alargamento de seus horizontes interiores. Somente chega ao final do caminho quem tiver paciência, inteligência e compaixão. Seres como Francisco trabalham pelos exércitos de luz e não para defesas de egos. Se sua vela da fé se apagar, simplesmente lembre-se de seguir em frente, sem deixar que o vento da dispersão justifique a falta de fidelidade aos compromissos firmados.