sábado, 21 de fevereiro de 2009

Desemprego: o que os números não mostram

Estamos longe de uma saída igualitária para todos os setores atingidos pela crise econômica mundial. Iniciada durante o último ano, pelo colapso do mercado imobiliário subprime norte-americano e a conseqüente supressão de crédito, a crise revela remédios diferenciados em seu combate. Países atingidos por seus efeitos adotam o mesmo modelo norte-americano, anunciado pelo Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, de resgate do sistema financeiro através da ajuda aos bancos, que estão em dificuldades, o que envolve um gasto de U$1.5 trilhão, visando melhorar a oferta de crédito no país.
É o Pacote de Estabilidade Financeira, uma espécie de fundo de investimento público e privado, que irá comprar papéis podres de instituições em dificuldades. Seus efeitos sociais são altamente discutíveis e sua eficácia catalisadora mundial colocada em cheque, uma vez que, quem não especula, acaba levando a pior.
Os números já revelam os efeitos desta verdadeira dicotomia. Segundo o jornal A GAZETA, de Vitória, edição do dia 21 de fevereiro, o IBGE reconhece que, durante o mês de janeiro do corrente ano, o aumento do índice de desemprego somente é comparável a janeiro de 2002, quando foi iniciada a Pesquisa Mensal de Empregos (PME). Nas regiões metropolitanas, a variação passou de 6,8%, registrada em dezembro, para 8,2% no mês seguinte.
O mesmo acontece em relação ao contingente de desocupados, 20,6%, entre dezembro e janeiro, foi considerada, pelo IBGE como sendo a maior de toda a série, havendo redução 2,1%, a maior para um mês de janeiro.
Estamos somente no início do processo, aferindo os primeiros resultados da queda de vendas, e, à medida em que elas continuarem a cair, também será acirrado o ritmo de demissões.
O que os números não mostram e fica subjacente às estatísticas é o que acontece na vida de um cidadão que perde o seu emprego. O chão desaba, a sua auto-estima fica abalada e há a perda de rumos em relação ao seu futuro.
A psicóloga Laura Marques Castelhano, coordenadora das atividades de pesquisa da ONG “Amigos do Emprego” relata o resultado de seu convívio com os ex-empregados. Para ela a frase "Eu tenho uma doença contagiosa: sou um desempregado", expressa - em poucas palavras - o sofrimento, a marginalização, o sentimento de impotência e, por que não dizer, a culpa que muitos desempregados sentem por se encontrar nessa situação. A analogia entre desemprego e doença contagiosa é muito comum nos relatos de profissionais desempregados; é um sentimento expresso, constantemente, que deve ser analisado com muito cuidado”.
E ela acrescenta: “Não é incomum vermos os tipos ideais estampados em anúncios de revista, principalmente aquelas que são direcionadas para o público que trabalha na organização. Crescemos ouvindo que "O trabalho enobrece o homem" e que "Só não trabalha quem não quer", evidenciando uma valorização e uma cobrança social que só reconhecerão quem trabalha e um tipo específico de trabalhador, já que não é qualquer trabalho que é valorizado e reconhecido socialmente”
E conclui: “Nitidamente, o emprego institui e define um papel social. Ter um emprego faz com que o sujeito se sinta parte de um projeto coletivo que, quando perdido, põe em cheque sua contribuição social e seu lugar na sociedade.
Por isso o desempregado é colocado numa categoria de margem à sociedade. Ele é visto como um marginal, como pária. Julgado por sua situação e terá que lidar com a hostilidade e a rejeição!”
Vale lembrar que 16% da população mundial já vivia, até a crise, em situação abaixo da linha de pobreza, não tendo sequer o que comer. E não por falta de oferta de alimentos no mundo, mas por falta de dinheiro para comprar comida.
Há uma linha demarcatória tênue, entre capital e trabalho, ameaçada pelas especulações, ambições e incongruências. Fora das estatísticas, há que se acabar com os preconceitos, gerar ações pró-ativas e estimular essas pessoas à mudança de atitude, porque, muitos dos que hoje estão empregados, amortecidos por seu status quo, poderão, pela inércia, fatalmente, serem os próximos,

Um comentário:

  1. Fernando
    Fico feliz em te ver enfim na blogosfera, onse só vais acrescentar. E como! O tema que abordas neste post inicial é crucial para todos nós, seres humanos, que nos valorizamos pelo trabalho e pelo trabalho, diário, segundo a segundo, em todas as áreas, evoluímos.
    Por isso, está mais que na hora de se repensar o tal modelo do trabalho humano. Depois da tal revolução industrial, que embasou todo este sistema em que vivemos, temos de fazer valer o solidarismo no trabalho.
    Só assim, patrões e empregados, jovens e experientes, incentivadores e criadores poderão fazer este planeta ir adiante.
    seja bem vindo
    abraço de sua amiga de 30 e tantos anos, numa prova de que o tempo não afasta - ele une.

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