sábado, 26 de setembro de 2009

COERÊNCIA

Há uma passagem de Mahatma Gandhi, um dos seres mais perfeitos que esta Terra já conheceu, que se refere ao princípio da coerência humana.

Conta-se que uma mãe foi procurá-lo, lhe fazendo o seguinte pedido:

- Mestre! Eu gostaria que o Senhor ensinasse o meu filho a não comer açúcar.

O Mestre pensou um pouco e disse:

- Sim. Mas volte daqui há duas semanas e traga consigo o seu menino.

A mãe não soube bem entender o que o Mestre quis lhe dizer, mas acatou e esperou o intervalo que lhe fora solicitado.

Passadas as duas semanas a mãe retornou ao Mestre e lhe disse:

- Fiz conforme o Senhor me recomendara. Agora gostaria de lhe pedir para que ensine o meu filho a deixar de comer açúcar.

O Grande Mahatma olhou o menino, se aproximou dele e se colocou de cócoras, para que seu rosto fitasse o menino frente a frente. E carinhosamente balbuciou:

- Não coma açúcar!

Feito isso se levantou e já ia embora, quando a mãe do menino lhe interpelou:

- Mestre! Eu saí de casa de madrugada, andei quilômetros até chegar aqui. Enfrentei animais bravios, atravessei leito de rios com o menino no colo, carreguei-o após se cansar, para o Senhor fazer algo que eu mesma poderia ter feito, em casa, sem precisar passar por todo esse sacrifício. Por que o Senhor fez isso comigo!

- É porque antes eu comia açúcar, minha filha!

A coerência está entre as atitudes humanas mais difíceis de ser praticada.

Geralmente, procuramos mostrar às pessoas não a imagem de quem realmente somos, mas a imagem de quem gostaríamos de ser. Criamos uma imagem distorcida, capaz de esconder a nossa própria arrogância, a nossa soberba. Outras vezes criamos falsas imagens para sermos admirados, respeitados e até mesmo temidos por atitudes contundentes que escondem o medo, a insegurança e a nosso complexo de inferioridade.

Criamos um mundo à nossa própria imagem e semelhança. E queremos que tudo se encaixe dentro dele do jeito que nós projetamos por nossa concebida persona. Somos críticos ferozes dos outros, vorazes julgadores dos demais, para demonstrar a nossa sapiência e sabedoria de enxergar o mundo. Mas somos benevolentes e modestos em relação a nossos atos e atitudes. Tudo isso para evitarmos o confronto com nossos arquétipos, construídos para referendar a imagem de pessoas fortes, inteligentes, bem-sucedidas, que estão um degrau acima, em ascendência sobre os demais.

Quem ama a si mesmo sabe do amor a si mesmo e também a coerência entre os arquétipos que construímos e a realidade de quem somos. Quando temos auto-estima, sentimos respeito e confiança em relação a nós mesmos e em relação aos demais. Assumimos uma atitude positiva e aberta e sabemos que estamos de bem com o mundo.

Quando nossa auto-estima é baixa, relativizamos a confiança em nós e nos fechamos para o mundo. Deixamo-nos, simplesmente, levar pelos arquétipos construídos. Quando nos amamos, damos importância à integridade e à ética, avaliando corretamente as implicações de nossos atos na vida de outras pessoas. Quando nos amamos de verdade temos um propósito de vida e a condição de traçarmos o futuro desejado.

Gandhi sabia que a auto-estima é um fenômeno que tanto é causa como efeito. Foi sincero consigo, para encontrar a coerência, respeitou os sentimos alheios, sem deixar de reconhecer os seus próprios. Foi solidário com o outro, sem deixar de ser a si. Foi implacável consigo e amável com o outro. O resultado final demoveu frustrações e lhe possibilitou o equilibro em si.

Esse é um exemplo a ser seguido por todos aqueles que procuram levar uma vida coerente, conseqüente e feliz. Afinal, os arquétipos existem enquanto não descobrimos a nossa essência. Enquanto a imagem que vendemos aos demais ainda é fruto de um mundo criado à nossa própria imagem e semelhança, porém insuficiente para responder as três perguntas que nos movem por esta existência: quem sou eu, verdadeiramente, de onde vim e para onde vou.

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