quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Iguassu em quedas

Foto Jucimar Felisberto



Uma visita às Cataratas do Iguassu (grafia adotada pela população local) se converte em uma experiência única, que fica impressa nos registros de nossa própria alma. Tamanha imponência nos dá a certeza de que nessa vida nada é por acaso. Ao contrário. Chamemos como chamemos, de Senhor, Javé ou Jeová, Deus, Alah, Tupã, ou, simplesmente, princípio gerador de tudo que é manifesto, o fato é que, ao nos depararmos com esta incomparável beleza, que a natureza nos brinda, nos damos conta de que somos consequência de uma causa maior subjacente. Somos fruto do que está oculto em todo ato de criação: a beleza, a diversidade, o amor e, porque não, a simplicidade.

Não podemos passar pelas Cataratas do Iguassu utilizando tão somente nossa mente racional. Para compreender sua magnitude devemos nos entragar aos nossos sentimentos, à grande emoção que vai, aos poucos, tomando conta de todo o nosso ser. No mundo sutil o principal elemento é o amor, princípio, meio e fim de toda a existência. Para aqueles mais perceptivos, diante de tamanha beleza, vão percebendo nascer, no interior, uma energia purificada, que eleva os estados de consciência e produz uma sensação de plenitude, trazidas pelo elemento água em precipitação a grandes alturas.
 
Foto Jucimar Felisberto
 


Os índios, aqueles de elevada espiritualidade, sabem que, se o ser humano se entregar, vai se deixando entrar nessas energias, de forma a perceber a presença dos espíritos da natureza, das ondinas, das hostess angelicais, o chamado povo pequeno, que, através de seu trabalho e a partir da água em queda, devolvem a esse elemento toda a sua vitalidade e energização.

O resultado não pode ser outro, mesmo para quem não consegue perceber a grande ordem espiritual presente, é uma sensação de tranquilidade, elevação, paz e plenitude, ao espectador entrar em contato com esta obra verdadeiramente divina.
 
É Divina porque desperta a dimensão holística da vida. Congrega as diferenças e enaltece os valores unitivos humanos e divinos. Provoca emoções puras e desperta a elevação das energias. Permite a comunhão do ser com a natureza e com a ordem natural da existência. Nos tira da dimensão egocêntrica e nos coloca em interação com os valores universais, através da beleza e da harmonia que o ambiente natural nos proporciona.

Foto de Jucimar Felisberto

Iguaçu, em tupi-guarani, significa água grande. E eu acrescento: imponente, majestosa, holística, transcendental. Iguaçu também é o nome do rio, no estado brasileiro do Paraná, que passa pelo território Argentino, que forma, nas Cataratas, mais de 275 cascatas, localizadas junto a uma área de cobertura vegetal nativa, que formam parques nacionais no Brasil e na Argentina.




As Cataratas são consideradas Patrimônio Natural da Humanidade e
 já participaram várias vezes das seleções
para entrar na lista das Sete Novas
Maravilhas da Natureza. Foto de Jucimar Felisberto.

O turista que desejar conhecer as Cataratas pode encontrar em duas alternativas a oportunidade de entrar em comunhão com aquelas águas em queda. Pelo lado brasileiro, de menor percurso, a visão geral e frontal, acrescido de uma trilha que chega aos pés do véu para olhar, de baixo para cima, aquele universo em precipitação.
 
Foto de Jucimar Felisberto
 
 
A proximidade àquele caudal líquido se faz a um chuvisco provocado por nuvens de gotículas que sobem a partir do impacto das águas com as rochas existentes na profundidade das correntezas.
 
Foto de Jucimar Felisberto
 
 
Do lado argentino, as opções são muitas. Do centro de recepção ao turista partem inúmeras trilhas e caminhos, que levam ao nível das águas e de lá por passeios de barco até as quedas. E, também, para os adeptos do rapel, inúmeras descidas pela mata, circundando princípicios, até o terminal das barcas.
 
Foto de Roberto Rouver
 
Seguindo pelas trilhas, na mesma superfície, chega-se ao terminal do trenzinho que transporta os visitantes aos diferentes pontos mais elevados do passeio, de onde o turista pode ver a água se precipitar pelas pedras, formando 90 graus, até chegar ao leito seguinte, em plano mais baixo. Também há opções de passeios de helicópteros para sobrevôos por toda a região.

Foto de minha autoria

No ponto mais alto, a visibilidade é pequena, destacando-se apenas uma bluma pela elevação das gotículas que sobem em direção contrária.

Foto de minha autoria


O grande criador parece que nutriu uma queda para cada gosto, que formam uma verdadeira ciranda das águas.



Ao andar pelas áreas das Cataratas, o turista encontra animais silvestres que já se acostumaram à pressença humana e fazem seus passeios sem se considerarem molestados. O problema é que os quatis pedem comida aos visitantes e são por esses alimentados de forma errônea. Seus organismos não estão preparados para fazer a digestão de alimentos industrializados e ficam doentes. Alguns já se habituaram e receber dos turistas petiscos e não mais procuram na natureza. Se tornaram incovenientes e muitas vezes agressivos. Roubam alimentos, arranham e mordem quem carrega nas mãos alguma comida desejada. Uma situação inadequada para todos. O turista se sente molestado. O quati passa a ser mal alimentado e a direção do Parque com problemas de saúde dos animais.



Ao final da visita, o turista se sente completamente recompensado. Se tiver fôlego e resistência, pode passar por cerca de 14 cenários, considerados os mais românticos do mundo. Quanto a mim, senti-me confortavelmente premiado, por ter passado por essa experiência, irretratável para quem ainda não a viveu e não sentiu a força das energias espirituais que alimentam as águas que correm. Uma forma que se asselha ao que diz a letra da música de Paulinho da Viola, "Sei lá Mangueira", que diz, à certa altura:

... para se entender
Tem que se achar
Que a vida não é só isso que se vê
É um pouco mais
Que os olhos não conseguem perceber
E as mãos não ousam tocar
E os pés recusam pisar
Sei lá não sei...
Sei lá não sei...
Não sei se toda beleza de que lhes falo
Sai tão somente do meu coração...
...Num sobe e desce constante
Anda descalça ensinando
Um modo novo da gente viver
De sonhar, de pensar e sofrer
Sei lá não sei, sei lá não sei não.
A Mangueira (as Cachoeiras) é (são) tão grande (s)
Que não cabe explicação.

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