quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Consciência Profissional: de si ou para si?

Em artigo anterior, reportei-me ao novo perfil de empregabilidade e incitei os leitores a fazerem a si mesmos a seguinte pergunta: Você se ama? Fui procurado por pessoas que leram meus registros, interessadas em saber se, com essa pergunta, eu estaria estimulando profissionais a assumirem um comportamento narciso? E se seriam exatamente esses, por adorarem a si mesmos, os mais capazes de sobreviverem à seleção natural, imposta por leis de um mercado de trabalho altamente competitivo e, por isso mesmo altamente seletivo? Seriam os que investem em marketing pessoal (assunto que se encontra na ordem do dia) aqueles que detém maior possibilidade de sucesso profissional? E a famosa “ Lei do Gerson ” não estaria aí para validar essa acertiva?

Tais preocupações contemplam uma questão substancial: quem obtém maior sucesso profissional, o egocêntrico ou o altruísta? Inegavelmente a questão revela-se polêmica e suas nuances se estendem para além dessas linhas. Profissionais narcisistas são enamorados de si mesmos. Sua vaidade se baseia em um ego que se enfeita para que os outros o adorem. Amparam-se largamente no delírio pela onipotência, caminham em direção aos excessos, a volúpia, ao poder e seus vícios, e, portanto, são completamente despidos de qualquer fundamento social. O mundo existe a sua volta para lhe servir. Ser paparicado é seu objetivo maior.

Energia e tenacidade para alcançar realização profissional podem muito bem estar incluídos entre os atributos de quem alimenta comportamentos narcisos. Com efeito, os novos paradigmas do trabalho exigem dos trabalhadores grande disposição para mudanças, onde devem ser capazes de se ajustarem rapidamente às transformações ocasionadas em ambientes profissionais e às inovações tecnológicas, o que requer autodesenvolvimento, despertar de atitudes criativas e adoção de uma adequada visão analítica da realidade onde atua. É necessário, ainda, ampla compreensão das atividades em que estão inseridas, excelente capacidade de comunicação, tanto oral quanto escrita, aptidão para resolver problemas e tomar decisões, de forma autônoma.

Não obstante, é o capital humano que vai tomando lugar do capital financeiro, à medida em que ocorrem avanços tecnológicos e são inseridas variáveis intelectuais em processos de produção, onde ao homem são reservados os processos cognitivos, relegando às máquinas a tarefa de esforço repetitivo. E, nesses ambientes, o espírito de corpo revela-se uma questão imperiosa, pois esse somente existe onde haja consciência coletiva.

E essa, por sua vez, em atitudes assumidas por pessoas que saibam harmonizar emoções e pensamentos, em função da evolução do ambiente em que convivem, incluindo elas próprias. Para que haja desenvolvimento de grupo, é necessário que hajam decisões de grupo, em busca de soluções aos problemas inerentes ao processo de transformação. Envolve, portando, questões éticas. E, nesse sentido, é necessário que se leve em conta que um ambiente de trabalho não serve apenas para satisfazer necessidades pessoais, mas para propiciar transformações a todos os seus integrantes, iguais em sua condição humana, porém diferentes no que se refere às formas de pensar e de agir.

E isso implica em cada indivíduo conhecer a si mesmo. Em levar em conta que o êxito profissional não depende de sorte, de magia, de colegas ou de seu chefe , mas constitui resultado do esforço inteligente e eficaz de cada um. A felicidade está nas mãos de quem trabalha, ao saber afastar comportamentos negativos e emoções prejudiciais, gerindo com habilidade todas as questões da vida. Apesar dos altos e baixos que ela enseja, o êxito profissional apoia-se na construção de um estado interior que independa das flutuações de humor.

As verdadeiras transformações acontecem de dentro para fora e se expressam através da serenidade interior, capaz de nutrir sentimentos nobres, nascendo dali a motivação para a construção de um ambiente de trabalho otimista, a partir de atitudes de empatia, cooperação e ligação social.

É do interior que vem a certeza de que somos frutos do amor e dele dependemos para uma existência plena, fazendo-nos cultiva-lo dentro de nós, para termos o que oferecer aos demais, como símbolo do respeito à vida, que nos concede existência, à dignidade, que nos liga à nossa humanidade, a nosso projeto de vida, de nos tornarmos trabalhadores conscientes, mas acima de tudo cidadãos que encontram uma razão maior para sua existência. E esse estado de ser não nasce pronto, mas deve ser construído por cada um, incitado por essa pergunta básica: você se ama? E servindo de desafio a todos os que se interrogam, a começar pelo autor destes registros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário