quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

DO DESEMPREGO À UMA NOVA EMPREGABILIDADE

Você está despedido! A cada dia que passa, essa frase vem se tornando mais e mais banal, a ponto de se converter em símbolo de um dos problemas mundiais mais agudos da atualidade: o desemprego. São os ventos da globalização que sopram nessa direção.
Como explicar a um chefe de família, em situação de desemprego, que, devido à adoção de novos paradigmas econômicos, trazidos pela globalização, não poderá mais dispor de seu emprego para sustentar seus dependentes? Como explicar a um jovem, pronto a ingressar no mercado de trabalho, que o capital especulativo, agora globalizado, não tem mais fronteiras para se reproduzir e, pôr isso mesmo, é aplicável onde o retorno lhe seja mais rápido, sem contemplar questões sociais? E que a força de trabalho também está globalizada, pois as oportunidades se dão em lugares onde ela se torna mais barata?
Como explicar a um trabalhador, que possui nível de instrução inferior ao segundo grau completo, que as novas oportunidades de emprego exigem qualificação que não dispõe? É difícil um trabalhador “bem” empregado supor que, segundo dados da OIT, dentro dos próximos 20 anos, apenas 5% da população economicamente ativa terá carteira assinada. Também é difícil levá-lo a supor que emprego seguro se torna cada vez mais raro.
Ao trabalhador acomodado poderá lhe parecer irreal o fato de as novas oportunidades se abrirem não mais a profissionais dóceis com a disciplina organizativa, subserviente, realizando tarefas específicas, em um ambiente onde as transformações ocorriam de forma lenta, progressiva e previsível e onde as habilidades gerais não eram valorizadas.
Agora, o trabalhador deve engajar-se no processo decisório, dele dependendo o êxito dos negócios da empresa. Deve saber atuar em equipe, tendo destreza para interagir, encontrar soluções criativas para problemas surgidos no dia a dia e, ainda, conhecer não só com profundidade seu ofício, saber avaliar o comportamento de mercado e ser detentor de criatividade, capacidade de improvisação e de inovação, ser capaz de assimilar rapidamente novos conhecimentos tecnológicos, buscar maior acesso a informações, dentre tantos outros atributos que lhe garantam a empregabilidade.
Para quem disputa uma vaga no mercado, as dificuldades são crescentes. A competitividade aumenta, o volume de investimentos em postos de trabalho diminui, ficando a maior parte das oportunidades restrita ao mercado informal. Cerca de 40 milhões de brasileiros trabalham na informalidade, contra 30 milhões na formalidade. O resultado é que não há trabalho em quantidade e qualidade para atender à população. O trabalhador brasileiro está às voltas não só com problemas de desemprego, mas de qualidade de emprego e de informalidade.
Problemas estruturais constituem reflexo da substituição de modelos que, pôr sua vez, trazem suas seqüelas. Na passagem de uma sociedade agrário-exportadora para a atual sociedade industrial houve uma verdadeira revolução na estrutura de emprego, fato que agora se repete, na passagem para uma sociedade da informação. O novo ciclo conta com a contribuição das máquinas, que se tornarem cada vez mais inteligentes, rápidas e baratas, o que provoca o conseqüente barateamento do fator capital na produção. O ser humano passa a ser “o principal patrimônio” de uma empresa.
Os novos paradigmas estão a ensejar uma verdadeira obsolescência humana. Esse quadro, generalizado no mundo inteiro, agrava-se no Brasil devido aos baixos níveis de educação, de crescimento da economia, bem como a existência de uma legislação trabalhista inflexível.
O quadro vivenciado pela sociedade brasileira enseja uma tomada de consciência e também novas posturas a serem assumidas. Pois ela deve encontrar soluções mais efetivas para socorrer aqueles trabalhadores que não são mais úteis, por não se enquadrarem dentro dos novos paradigmas. Em nível individual, a certeza de que os novos tempos não ensejam tão somente mudanças de posturas profissionais, mas, principalmente, uma reavaliação das formas de encarar a vida, pois, afinal, o fator trabalho constitui uma das principais fontes de realização existencial.

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