quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

MAIOR ABANDONADO

Rejeitado pela família, desprovido de condições financeiras para levar uma vida digna, na faixa etária a que pertence, quase sempre apresentando saúde abalada e auto-estima baixa. Esse é o perfil mais comum de idoso que chega, em número crescente, aos asilos de assistência.
São os maiores abandonados. Seres humanos que deixam seus antigos papéis (pai, mãe, tio, irmão) para se tornarem anônimos pacientes de asilos e de casas de assistência. Acostumados a uma vida laboriosa, são levados à ociosidade e dessa à depressão, pela ausência de função ou atribuição, pela vontade pessoal não satisfeita, pela rotina marcada por “banhos de sol” e babá eletrônica (a televisão).
Em seu novo “habitat”, os maiores abandonados não conseguem recompor, com seus assemelhados, as referências de seus antigos vínculos familiares, não estabelecendo elos entre uma vida construída no passado e a inércia que marca a desconstrução de um presente sem presentes.
Símbolo de uma sociedade que começa a ignorar a “ordem do amor” ou da hierarquia, onde quem entra no sistema familiar primeiro tinha, até recentemente, certa precedência sobre os que vinham depois, esse fenômeno transforma suas referências e estabelece uma nova lógica familiar. A alma da família se desfaz, pelo descarte de membros não produtivos. .
Os asilos são moradas de medo, frustração, dor, raiva, culpa, amargor, dúvida e até mesmo ódio, alimentados por sentimentos compassivos não compartilhados. São ante-salas reservadas às pessoas designadas para viverem a morte mesmo antes de ela chegar.
Paradoxalmente, quanto mais próximos chegamos de nossa própria morte, mais vivos nos sentimos. A Terceira Idade é um despertar para os verdadeiros fatos da vida. Quando bem vivida, aprendemos a distinguir claramente os interesses de nosso ego, voltado para si próprio, e o que é nosso interesse maior e supremo. Quando não, enchemos nossas vidas de expectativas, ansiedade nervosa e medo. Talvez por isso mesmo seja encarada como a etapa da reflexão, em busca de sabedoria e discernimento.
Para quem vive a chamada terceira idade, o apoio e a solidariedade de seus familiares passa a ser um fator indispensável para a superação dos limites impostos pela idade e pelas circunstancias de viver a derradeira experiência de vida. Porém, nem sempre os que acompanham alguém nessa fase sabem oferecer o amor e a compaixão necessários, abandonando-os à própria sorte e transformando essa experiência existencial em realidade repleta de sofrimento e solidão. Mesmo vistos isoladamente, esses casos são sinais de que os padrões modernos de vida estão deixando para trás referências de uma relação social integradora e repleta de significados para a construção de afetividades e cumplicidades entre os seres humanos.

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