quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

PODER E ELEIÇÕES

“Euuu tenhoooo a fooorçaaa!...”. Quem não lembra desta frase, proferida por um herói das estórias de quadrinhos, que, ao desembainhar sua espada, adquire o poder de invocar as forças superiores para auxiliá-lo a vencer seus ferrenhos inimigos? Quantos de nós não gostaria de estar dotado de forças sobrenaturais para destruir o poder de seus oponentes? Levados pelo discurso e pela alardeada proposição de enfrentar os verdadeiros “inimigos do povo”, inúmeros candidatos, a cada eleição que se realiza, sobem aos palanques para declarem-se legendários defensores das causas públicas.
Invariavelmente todos se mostram desapegados dos apetites que o poder lhes concede, alardeadamente vinculados ao pudor, o respeito ao outro, o recato, o serviço, a gratuidade. Mas, quem, dentre tantos, consegue renunciar a seus interesses pessoais, para tão somente tratar das coisas públicas? Para conhecer um homem, basta lhe dar o poder e observar suas limitações nascendo de suas entranhas, para revelar, ao final, quem realmente é. O poder seduz. Galgar uma posição de destaque e domínio sobre outras pessoas é uma intenção nem sempre translúcida.
Uma pessoa chega ao poder investido segundo três intencionalidades diferentes: para superar complexos de inferioridade ou de superioridade, ambas formas de poder insatisfeitas, ou, ainda, pelo altruísmo de servir o próximo. No primeiro caso, por sentir-se fracassado em sua auto-estima e ambição pessoal, forçando uma atenção e cuidados especiais do meio. No segundo caso, a busca pelo prestígio, como fruto da tentativa de sempre levar vantagem em todos os aspectos da existência.
Muitas vezes, quem detém o poder não tolera críticas ou objeções, embora, paradoxalmente, sinta-se aliviado ao deparar-se com opositores, pois, assim, encontrará uma válvula de escape para seus impulsos agressivos e destrutivos, principalmente se estiver frustrado ou extremamente infeliz.
A última das intencionalidades se refere a mais nobre meta humana a ser alcançada: o sentimento de comunidade. Nesse caso, o sentido de poder passa de um aspecto egocêntrico ou narcisista, para algo que contribua para o desenvolvimento da coletividade humana. Tanto o egoísta quanto o narcisista procuram usufruir ao máximo do poder, por ser transitório e, por isso, nada dividem. O preço pago por esses acaba sendo a solidão, pelo temor de se expor.
Nos momentos que antecedem a uma eleição, cabe a todos uma reflexão. Ao leitor, para refletir sobre aqueles candidatos dispostos a transformar o poder egóico em social. Aos postulantes, conhecerem seus aspectos psíquicos. Talvez eles próprios estejam passíveis de se converterem em prato principal para a função de manutenção do aparato do poder. Pois, do contrário, estaremos sempre criando estruturas de poder fragmentadas e alienadas dos verdadeiros aspectos gregários que favoreçam a evolução humana.
Como bem dizia Adler: “O poder é uma terrível armadilha, pois quando alguém pensa possuí-lo, já está possuído por ele”. A possibilidade de criar um mundo à sua imagem e semelhança constitui o cerne de uma ambição mais efêmera que o próprio poder. Em troca, ganhar a eternidade requer, dentre outras tantas coisas: não tratar os sentimentos alheios de forma irresponsável, saber que às vezes se ganha outras não, alimentar o ego com elogios ofusca a visão acurada da verdade e que vontades individuais estão subordinadas aos desígnios coletivos. A recíproca jamais revela-se verdadeira.

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