quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Raízes gaúchas

O domingo já vai a pino. O calor faz o cusco, deitado sob a mesa, se esparramar pelo chão, imóvel, inerte, entregue, à espera de uma brisa que lhe refresque o pelo. A vitrola toca música gaudéria. E eu entregue aos meus pensamentos...

O coração bate mais forte. Saudades dos pagos.

Minha mente produz faíscas, que se convertem em pensamentos sobre as minhas origens. O Rio Grande está longe na geografia, mas colado, em meu coração mortal. Meu Estado natal ganhou evidência, na mídia nacional, em face de uma trama épica, encenada pela Rede Globo, que levou o nome de “A Casa das Sete Mulheres”.

Reflito sobre a trama e a trajetória de meus antepassados. Penso em mim nesse cenário. O que tudo isso tem a ver comigo?

As origens do Rio Grande ostentam um passado de glórias, mas, também, de guerras, de lutas e de adversidades. A mais marcante: a de 35.

Os homens fazem a guerra porque querem as glórias, querem ser admirados e tratados como heróis, fazendo reluzir seus brasões exitosos. Sim, vencer o inimigo, a qualquer custo, e sair da peleia coroados de feitos. Tudo isso engala sonhos e enaltece ousadias.

A história pouco conta dos entremeios. Só o início, coberto de sonhos, e o fim, coberto de glórias. Quantos pelearam, quantos tiveram que passar por montanhas de corpos putrefatos, sangue jorrado, lenços manchados (não brancos, nem vermelhos, pois muitos se esquecem que maragatos e chimangos vieram depois, em outros conflitos bélicos), bandeiras desfraldadas ao chão, estâncias arrasadas, gineteadas produzindo somente extermínio. Quantas roupas esfarrapadas, botas de garrão de potro, confeccionadas às pressas, utilizando couro mal curtido, e faixas arroteadas.

Famílias desfeitas, chinas viúvas, piás órfãos, mascates com bolsos cheios de níqueis, farrapos estropiados, caramurus perdendo o vinco de seus garbosos fardões, índios xirus expatriados, o amargo mais amargo, a cana ardente mais ardida, que nem urtiga, tchê, mas bah...

Dez anos valem muito. Quantos remanescentes, saídos vivos dos campos de batalha, não chegaram a se perguntar: por que mesmo essa guerra começou?

Todo o conflito bélico é assim mesmo, mano, só serve para enfraquecer a soberba...

Nenhum comentário:

Postar um comentário