sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

TELEVISÃO: SIM OU NÃO?

O Brasil está ingressando na era da televisão digital, que contém novas tecnologias capazes de revolucionar a qualidade de imagem e a interatividade entre emissoras e receptores de mensdagens. Tudo isso se faz sem que tenha surgido um debate mais profundo sobre o tipo de televisão que se pratica hoje no Brasil.

Em 2004, houve a realização do Forum Rio Summit, na cidade do Rio de Janeiro, promovido pela 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes. Esse Encontro alcançou pouca repercussão no Brasil e um relativo interesse pela mídia brasileira, em assimilar eventuais autocríticas sobre o seu papel na sociedade onde atua. Mas as conclusões apontadas por seus participantes continuam mais atuais do que nunca.

O Encontro ensejou abordagens de temas como Mídia, Mercado, Audiência, Valores e Diversidade Cultural, a partir de uma pergunta básica: qual a influência que a televisão exerce nas sociedades onde está presente? Vale dizer: quem define o que é mídia de qualidade? Quem pesquisa? Quem assiste?

O tema nunca deixou de ser atual e se revela de significativa importância, para a formação das sociedades atuais, uma vez que pesquisas demonstram que jovens e adolescentes alcançam a média diária de não menos do que 4h30m a frente de um aparelho de televisão. E deixa algumas importantes questões: como a mídia retrata as diferentes culturas e identidades do mundo? A globalização permite o intercâmbio de expressões individuais e coletivas ou, ao contrário, ela homogeneiza essas expressões com padrões comerciais e culturais dominantes? O que deve ser feito para democratizar o acesso à mídia e assegurar produções que respeitem crianças e adolescentes?

No Brasil, o processo de democratização e o advento da Constituição de 1988 trouxeram consigo limitações à censura e o emergente desafio da construção democrática da mídia, a partir da qualificação de conteúdos veiculados pelas emissoras de televisão. Com efeito, é fato notório de que a construção da cidadania passa pela qualidade do que é apresentado pela televisão e suas influências na formação do imaginário popular.

Na passagem para o atual século, a televisão vem sendo apontada como responsável por não menos do que três influências negativas na construção da personalidade dos indivíduos: o culto a violência e ao consumo e a banalização do sexo. É preciso pensar, repensar e refletir o que é útil e o que é prejudicial à formação de indivíduos, pois a construção da cidadania passa, necessariamente, pela qualidade da televisão, pela ética e pela moral, visando a diminuição das influências negativas.

Jovens e adolescentes que representaram países dos quatro continentes reivindicaram, durante o Encontro, maior participação na definição da programação a ser veiculada, assim como maior respeito e reconhecimento à sua condição de ser humano. Do jeito que está, a televisão está incentivando o espectador a assumir uma condição passiva, frente à realidade que absorve, capaz de lhe gerar amortecimento de seus sentimentos. É preciso entender que a televisão, feita por adultos e direcionada a jovens e adolescentes, deve mudar o seu papel, passando a despertar em seus espectadores uma condição mais ativa, de agente de transformação. Por sua vez, os jovens vem tomando maior consciência de que são capazes de interferir, sempre que a programação venha violar ou infringir a ética construtiva da sociedade onde se processa. Desejam maior participação na composição das mídias. Esse Forum demonstra isso.

O exemplo não parte de quem deveria tomar a iniciativa: os chamados adultos, pois a televisão do amanhã, está sendo construída hoje, sem a participação de quem deve exercer a sua cidadania plena, nos próximos anos.

E, para tanto, é preciso levar esse tema até o seio da família, pois os adultos, muitas vezes, mantém uma concepção distorcida do que seja benéfico ou maléfico para seus filhos. A visão que os adultos tem da televisão não é necessariamente a mesma daquela expressada pelos jovens e adolescentes. É preciso abrir o diálogo, entre país e filhos, entre adultos e jovens e adolescentes, visando harmonizar visões diferentes e até mesmo antagônicas sobre os conteúdos disseminados pelas emissoras de televisão.

É preciso maior integração entre sociedade civil organizada e o Estado, notadamente envolvendo os Ministérios Público e da Justiça, na regularização dos conteúdos, sem que se perca de vista o fato de as emissoras operarem a partir de concessões públicas, sem ferir o direito de livre iniciativa e harmonizando recursos públicos e valores éticos e culturais mais representativos do contexto onde se insere a televisão brasileira.

Ao lado da pobreza que assola grandes contingentes populacionais, da falta de democracia plena, o mundo convive com uma fome diferente, bem mais abrangente do que a falta de alimentos orgânicos: a fome de cada indivíduo ser reconhecido pelo meio onde vive, com direito a voz e voto. Urge discutir-se meios para que a mídia não se torne cúmplice da violência e da criminalidade, nem mesmo incentive a indiferença, em relação ao que se passa com a sociedade brasileira.

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