sábado, 14 de março de 2009

Alcoolismo: a vez dos jovens

O tema é recorrente e mundial. Cada vez mais cedo indivíduos estão adquirindo o hábito de ingestão de bebidas alcoólicas, independente do sexo, condição sócio-econômica, etnia ou quaisquer outras formas de estratificação social.

Em nota publicada no dia 14 de março do corrente ano, intitulada "Sem Controle”, a jornalista Lúcia Garcia, que assina coluna em jornal de grande circulação na cidade de Vitória, afirma: “ Alguns alunos – menores de idade – dos melhores colégios da Grande Vitória, estão bebendo além dos limites. Isso tem acontecido, principalmente, em festas de aniversários, fora dos estabelecimentos de ensino. É triste, lamentável mesmo, ver meninos e meninas em coma alcoólica”.

O alerta, lançado pela jornalista, não está acompanhado por estatísticas de representatividade do número de casos de coma entre jovens que ingerem bebidas alcoólicas. Mas certamente traz subjacente um veemente apelo, dirigido a pais, educadores, autoridades e a própria sociedade civil para que não fiquem inertes, passivos, mas façam algo por esses menores, antes que venham adquirir a síndrome da dependência alcóolica.

Pelo fato de serem menores, esses jovens ainda não adquiriram a maturidade necessária para avaliar o perigo a que estão expostos e nem mensurar as seqüelas que tais atos poderão resultar em suas vidas. São os adultos, que conhecem os riscos, os responsáveis por orientá-los e auxiliá-los a viver com equilíbrio e ponderação.

Por trás da inclinação de um indivíduo procurar um copo, que contenha bebida alcoólica, há sempre uma questão social. Todo indivíduos é, ao mesmo tempo, gregário e tribalista. Gregário porque sente a necessidade de estar ligado a outros indivíduos e tribalista porque sente a necessidade de pertencer a algum grupo ou forma associada de indivíduos que mantém o mesmo interesse gregário.

O primeiro elo de um ser humano, com os demais indivíduos, se faz através da família e, na sequência, com grupos de amigos, na qual estabelece relações de dependência e, também, de independência; isso é: ao mesmo tempo em que deseja “pertencer a um grupo, o jovem quer alcançar a sua autonomia, como indivíduo.

É nessa condição que se torna suceptível aos apelos à bebida. Quando em contato com os veículos de comunicação de massa, os jovens recebem o convite para beber, através de sugestivos anúncios publicitários. Ainda que essas propagandas digam: “bebam com moderação”, elas não deixam de conter o apelo “bebam”. “Se dirigir, não beba”, também apresenta o mesmo vocativo: os motoristas não devem beber, mas os que não dirigem estão liberados a fazê-lo. Esses apelos publicitários tem o seu sustentáculo: quem bebe socialmente é vitorioso, é uma pessoa sociável, agradável, é carismática.

No ambiente familiar, também há situações que reforçam os apelos publicitários, quando um familiar, taciturno, passivo ou agressivo, face aos problemas que enfrenta, participa de uma reunião social e bebe, se torna sociável, agradável, simpático. Observando ambos os apelos, os jovens associam a bebida à aceitabilidade social. E, quando chegam a realizar essa experiência, descobrem que o álcool pertence ao grupo das chamadas “recompensas celebrais”, que oferece bem-estar, satisfação e desinibição, dentre outras sensações de prazer. A quebra de inibição o leva à notoriedade: serem admirados, por beberem mais, se destacarem mais, terem mais coragem, terem mais resistência, transgredirem mais, enfim, lhe dão a falsa sensação de alcançarem popularidade e destaque.

E, toda vez que os jovens estão juntos, em tribo, passam a utilizar o álcool como meio para se sentirem aceitos, se sentirem considerados pelos demais, quebrando barreiras ou aumentando a sua influência sobre os demais.

Ao contrário de outras substâncias tóxicas, como a heroína e a cocaína, o álcool é uma substância que aceita um consumo moderado, em adultos saudáveis. São aqueles que conseguem permanecer em estágios intermediários de euforia. É dentro dessa permissividade que acontecem os abusos, muito comum entre os adolescentes e jovens adultos, que bebem alimentados pela intenção de alterar o seu comportamento.

É justamente aí que reside a preocupação da jornalista Lúcia Garcia, pela possibilidade de haver famílias que, muitas vezes não estão sensíveis ao problema, desconsiderando o consumo de seus jovens e sem atentar que esse consumo de risco pode representar danos claros para esses ou para o próprio sistema familiar.

Para muitos, o consumo excessivo pode levar à compulsividade e fazer com que o indivíduo alterne sensações de prazer e de sofrimento, já dentro de um quadro que pertence à chamada síndrome da dependência alcoólica. Quando bebem, esses indivíduos não conseguem mais controlar a quantidade a ser ingerida.

O álcool é uma droga e, como tal, causa dependência, a ponto de a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhecer que o alcoolismo já atinge dez por cento da população do mundo, sem poupar sexo, idade, condição sócio-econômica e/ou etnia. Os efeitos desse problema vão bem mais longe do que se pode imaginar, dando margem a uma séria de indagações e reflexões.

No Brasil, 11% da população brasileira é considerada portadora da síndrome do alcoolismo, o desonroso primeiro lugar na estatística, entre aqueles que consomem drogas, onde a maconha ficou com apenas 1% da população. Isso é, para uma população de 180 milhões de brasileiros, cerca de 18 milhões são dependentes químicos do alcool.

Paradoxalmente, aqueles indivíduos que utilizaram essa droga para abrir portas, as vêem se fechando, à medida que se consolida a sua síndrome de dependência. Eles enfrentam problemas sociais, legais, profissionais e, significativamente, clínicos e psiquiátricos. Não escapam nem mesmo do preconceito e da rejeição de grupos que anteriormente o acolheram.

O alcoolismo é uma doença tratável, como qualquer outra doença crônica. A ciência mostra que há uma taxa elevada de recuperação de indivíduos quimicamente dependentes.

Segundo o Dr. Dráuzio Varella, “o envolvimento da família geralmente acontece a partir da 2ª fase da doença, quando surgem os problemas paralelos, como acidentes de trânsito, violência, perda de emprego, decadência social, financeira e moral. É quando ocorre a síndrome da co-dependência, isto é, a família torna-se também dependente da substância álcool. É uma dependência neurótica, um alcoolismo seco que provoca sofrimento e inúmeros desajustes”.

E ele enfatiza: “a essa altura, a dinâmica familiar passa a ser regulada pelo comportamento do usuário de álcool, na vã tentativa de controlar sua forma, quantidade e freqüência de beber, o que é impossível. Minada por um sentimento de culpa injustificável (os pais são tão culpados de transmitir os genes do alcoolismo aos filhos quanto os da cor dos olhos ou os do ambidestrismo), a família tem de conscientizar-se do problema e pedir ajuda. Fácil falar; difícil fazer. Em geral, por preconceito ou vergonha, procura-se negar o fato e a resistência só é vencida quando a situação fica insustentável e a família inteira desestruturada. "O lar fica alcoólico", disse a esposa de um alcoólico que quanto mais doente estava, menos condição tinha de pedir socorro”.

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