sexta-feira, 6 de março de 2009

Jornais & web

A crise mundial está chegando às redações de jornais impressos. A supressão de investimentos, a revisão de custos de produção, que incluem a redução drástica do quadro de jornalistas, já atingiu o Jornal do Brasil, nos primeiros dias de fevereiro. E já retorna à mesa de discussões a velha questão: a mídia impressa está fadada a ser substituída pela web, que opera a custos bem mais atrativos? O fato é que, sempre que há uma crise na mídia impressa, há um novo fomento comercial ligado à web e, em conseqüência, mudança em seus paradigmas tecnológicos e conceituais. O webjornalismo abre espaço para a interatividade entre o leitor e a produção de notícias e, em decorrência, há formação de sistemas cada vez mais complexos que tornam obsoletos modelos vigentes.
Marcelo Povoa, sócio-diretor da MPP Solutions, em seu artigo “a Web fragmentada, publicada na Webinsider, afirma que “os usuários querem ler noticias editorialmente selecionadas por um grande jornal, mas também fatalmente opinam e interagem com inúmeros grupos de interesse e mesmo formam publicações paralelas, com seus próprios conteúdos, ensejando uma multiplicidade de interações fragmentadas na rede que podem exaltar e construir um brand – ou atacá-lo de forma literalmente virulenta”.
Por sua vez, os jornais impressos não estão somente envolvidos com a elevação dos custos de produção, mas com dificuldades em atrair leitores mais jovens, por apresentarem posturas conservadoras, estruturas estandarizadas e enfadonhas. Quem milita já há algum tempo no meio jornalístico sabe que as mídias se complementam e não são autofágicas. O jornalismo impresso continua, talvez mais encolhido e voltado a um público mais conservador. Mas o saneamento dos custos de produção, envolvendo a dispensa de jornalistas experientes, para extinção de altos salários, não é necessariamente a melhor solução. E, sim, a revisão da proposta empresarial que lhe dá sustentabilidade.
O jornalismo impresso vem desempenhando um papel fundamental à democracia e à defesa dos direitos constitucionais. Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, afirma que “o jornal, como qualquer negócio, não existe para perder dinheiro”, mas, por sua especificidade, está associado à “credibilidade, à qualidade do produto e também à ética. Os jornais impressos, hoje, atuam dentro de uma fatia qualificada de mercado, onde o público quer informação aprofundada, analítica, precisa e confiável. Só um produto consistente tem a marca da permanência. Qualidade editorial e credibilidade são, em todo o mundo, a única fórmula para atrair novos leitores e anunciantes.”
Para isso lembra o exemplo do New York Times, que recendente reviu a sua fórmula de sucesso: “Produzir jornalismo de qualidade e matérias sérias de maneira mais atraente”. Qualidade e bom humor. É isso. Os jornalistas precisam escrever para os leitores... pois dialogam consigo mesmo”... é preciso “apostar em boas pautas (não muitas, mas relevantes), uma outra saída. É melhor cobrir magnificamente alguns temas do que atirar em todas as direções. O leitor pede, em todas as pesquisas, a reportagem. Quando jornalistas, entrincheirados e hipnotizados pelas telas dos computadores, não saem à luta, as redações se convertem em centros de informação pasteurizada. O lugar do repórter é na rua, garimpando a informação, prestando serviço ao leitor e contando boas histórias. Elas existem. Estão em cada esquina das nossas cidades. É só procurar. O jornalismo moderno, mais do que qualquer outra atividade humana, reclama rigor, curiosidade, ética e paixão. É isso que faz a diferença”.
É importante atentar para o fato de que, para obter o sucesso e sair da crise, é necessário estar atento às mudanças e compreender a dinâmica dos sistemas em que estão inseridos, visando delinear cenários e estabelecer ações estratégicas. Simplesmente atuar pelas circunstâncias é correr o ônus de uma inércia, em tempos de verdadeiras transformações, provocadas por seu público alvo: o leitor.

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