quarta-feira, 25 de março de 2009

Crise (s)

O mundo está conhecendo a primeira crise após o advento da chamada globalização econômica. A história humana sempre esteve permeada por crises. E com elas sempre veio o desemprego, a marginalização, a pobreza absoluta. A mais recente delas surge após um processo de transnacionalização do capital, a configuração de redes globais de informação e depois de alcançar um estágio tecnológico jamais experimentado pela humanidade em toda a sua trajetória.

Todos sabem quando e como essa crise se iniciou: no último ano, pelo colapso do mercado imobiliário subprime e a conseqüente supressão de crédito no sistema financeiro norte americano. Porém é difícil fazer-se previsões sobre quando ou como ela acabará.

O Brasil não está imune aos seus efeitos. Cerca de 30% do crédito brasileiro é tomado, normalmente, no exterior, e com sua supressão, as empresas se voltam ao mercado interno para buscarem mais crédito, o que certamente implicará na retração dos investimentos ligados à produção. Isso sem levar em conta os efeitos direitos sobre o faturamento das empresas que trabalham com o mercado externo e as dificuldades advindas da retração dos negócios.

Com efeito, as previsões da FEBRABAN já prevêem inadimplência recorde e a possibilidade de recessão em 2009. O resultado é a diminuição do crescimento do PIB brasileiro, passando as projeções de 1,9% para apenas 0,3% neste ano. A maioria dos bancos acredita que a economia deva começar a se restabelecer em 2010, com crescimento de 3,2% do PIB. Até lá se corre o risco de a economia brasileira gerar a desestabilização da estrutura produtiva, acompanhada por impactos na composição familiar e social brasileira.

A matriz desta desestabilização é financeira, mas as causas possuem raízes históricas dissociadas dessa, estando instaladas na própria condição humana: em suas intenções e atitudes. A lógica especulativa e cumulativa que move o capital é centralizadora, porém seus efeitos nocivos são absolutamente socializantes. Isso é: na hora de ganhar, poucos se beneficiam, na hora de perder muitos pagam a conta.
Nos Estados Unidos, para destravar o sistema de crédito americano, o presidente Barack Obama deverá colocar em prática um plano que destinará US$ 1 trilhão aos chamados ativos tóxicos ou títulos “podres”, créditos considerados de difícil recebimento ou papéis de aplicações lastreadas em títulos cujas chances de pagamento são pequenas.

Pretende o Presidente Barack engendrar maneiras de as instituições financeiras voltarem a emprestar. E, com isso, gerar maior otimismo no mercado americano. No Brasil, o presidente Lula já acenou a utilização de recursos públicos para dar suporte a investimentos privados que mantenham o PIB em patamares aceitáveis, as empresas exportadoras ativas e a liquidez dos créditos como suporte à produção industrial.

Com efeito, mobiliza-se vultosos recursos, que poderiam ser gastos, pelos governos, em obras sociais, para desfazer os efeitos da especulação e da ganância cumulativa, dissociada da produção de bens e serviços de caráter desenvolvimentista e progressista. Isso é: comprar ativos tóxicos ou títulos “podres” para que esses não venham ocasionar recessão e desestruturação social.

Essa crise espelha muito bem os elementos subjacentes, presentes em todas as demais, que hoje assolam a humanidade neste momento: é uma crise ética, marcada pela deterioração de valores coletivos em detrimento da exacerbação dos interesses individuais. Ao juntar os interesses mundiais, pela aproximação de mercados, a sociedade mundial criada incorporou em si velhas atitudes humanas. A solução para essa anomalia passa por uma revisão de valores individuais e coletivos. O educador, consultor e sócio fundador da Empresa Amaná-Key, Oscar Motomura, em suas palestras costuma afirmar que “está na hora de mudar a cultura, apoiada em sistemas de escassez, onde uns perdem e outros ganham, para entrar na economia da abundância, o que significa que o indivíduo possa fazer coisas de um jeito tal que todos ganhem muito. É a busca de um sistema de vida e de relação que faça os recursos se multiplicarem, onde haja a generosidade de fazer-se as coisas juntos”.

A cultura da confiança e da solidariedade já é praticada por aqueles que estão nas bases das pirâmides sociais, encontrando resistência à medida que ascende ao cume. Nenhum regime político quer de esquerda, quer de direita, quer se propugnando democrático ou ditatorial conseguiu resolver, ainda, essa questão subjacente a todo o ato humano: transformar atitudes egocêntricas em altruístas. Nem pela força, nem pela palavra. Talvez a saída esteja no fato de nos lembrarmos da existência de um sistema de valores paralelos ao arbítrio humano, um sistema cósmico que tem suas próprias leis. Esse sistema é baseado no princípio da unidade e da harmonia entre as partes. Toda vez que nos desviamos dessa forma unitiva, estamos nos desviando do rumo e gerando, em conseqüência, crise & crises.

2 comentários:

  1. Confiança e solidariedade. Que mundo melhor que este teríamos se usássemos "só" estes dois ingredientes para viver, hem amigo? Mas parece que todo mundo tem prazer em revolver as feridas e abrir outras. Vamos fazendo nossa parte, então, o que não é fácil.

    ResponderExcluir