sexta-feira, 17 de abril de 2009

Líderes Mundiais

A humanidade carece, neste momento, de líderes capazes de guiá-la a novos e promissores ciclos de desenvolvimento. Ao longo de sua trajetória, seus líderes sempre assumiram um caráter visionário, estando enquadrados em duas estirpes: aqueles movidos por intenções egocêntricas e aqueles movidos por intenções egoentes. No primeiro caso, são aqueles líderes que buscaram criar um mundo à sua imagem e semelhança, acirrando diferenças e estabelecendo privilégios para grupos de sua predileção. No segundo, por aqueles que buscaram criar uma unidade harmônica a partir de um reconhecimento das diversidades existentes. Sempre agiram segundo princípios maiores do que eles mesmos.

Certamente esse autor não poderia subestimar o leitor, dando-lhe exemplos óbvios de líderes que ganharam notoriedade, tanto a partir de uma, como de outra intenções. Mas nem sempre a realidade se revela translúcida. Quantas vezes surgiram na história humana personalidades públicas que ostentavam discursos eloqüentes e inflamados, mas cujas ações não eram compatíveis ou coerentes com suas bandeiras. São os chamados engodos. A sabedoria popular está certa ao afirmar que “nem tudo o que reluz é ouro”. Parte da história das lideranças foi escrita por autocratas de direita e de esquerda, déspotas vitalícios, populistas, corruptos, fanáticos, belicistas e tantos outros foram alternando-se no poder sem a compatível contribuição para tornar esse mundo melhor aos seus habitantes. São, sem dúvidas, os mais ruidosos. Mas, neste século, as inovações tecnológicas propiciaram o advento de uma aldeia global e a pergunta que se impõem é essa: ainda há lugar para líderes egocêntricos?

Sim, nossa aldeia global carece de bons líderes para conduzir-nos a um mundo melhor e mais fraterno. Utopia? Pois essa premissa está escrita em nossa carta magna, chamada DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948. Ela está completando 61 anos e todos sabemos que não conseguimos ir além de seu artigo 1º, hoje ainda uma utopia: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e de consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”.

Esta carta foi lançada no pós-guerra, quando sopravam os ares da democracia e das liberdades individuais, mas a história mostrou, nesses 60 anos, que elas foram estabelecendo mais direitos para uns, do que para outros. E agora, com o advento do processo de globalização, novos ares começam a soprar e se abre novamente a condição de se rever a pauta de assuntos necessários à concretização dos ideais firmados pelos povos no pós-guerra. A chamada distensão exige de nossos líderes uma pauta que inclui, entre outros assuntos, políticas mundiais inclusivas, economias voltadas a equacionar problemas de marginalidade social e combate à fome, políticas ambientais que regulem o consumo e resguardem recursos naturais não renováveis, políticas sociais democratizantes, que reconheçam as liberdades de expressão e religiosa, políticas culturais que reconheçam usos e costumes, além de políticas públicas que instaurem, nos aparelhos de estado, condições para prover, de forma ampla, a educação e a saúde pública eficiente, assim como garantias de direitos individuais e coletivos.

Nos últimos 60 anos, nossa aldeia cresceu e se multiplicou acentuadamente. Segundo a Wikipédia, a enciclopédia livre, nossa aldeia global já possui 6,6 bilhões de pessoas e continua a crescer em ritmo acelerado, estando previsto, para 2012, uma população de sete bilhões de pessoas. Mas a sua trajetória é mercada por diferenças e contrastes acentuados que transforma o primeiro artigo de nossa carta magna em desafio a ser vencido.

Nossa população se distribui de forma desigual sobre os continentes. A Ásia abriga mais de 60% da população mundial, com quase quatro bilhões de pessoas. China e Índia, sozinhas, abrigam, respectivamente, 21% e 17% desse contingente. Essa classificação é seguida pela África, com 840 milhões de pessoas, 12,7% da população mundial. A Europa abriga 710 milhões de pessoas, isso é 10,8% da população mundial. A América do Norte abriga 514 milhões (8%), a América do Sul 371 milhões (5,6%) e a Oceania em torno de 60 milhões (0,9%). Isso quer dizer que, enquanto em algumas regiões os homens se “acotovelam” por falta de espaço, notadamente na Ásia, aonde a densidade demográfica chega a 80 hab/km², a Antártica revela-se praticamente despovoada.

No plano econômico, uma questão continua recorrente, entre os economistas: a desigualdade entre os mais pobres e os mais ricos e a paralela existência de taxas menores de crescimento econômico de países pobres em relação aos países ricos. Até recentemente, os estudos, de caráter econômico, utilizavam a renda per capita como fator de aferição da distribuição de renda. Mais recentemente, as metodologias passaram a destacar o bem-estar dos cidadãos como principal parâmetro de medição de processos de reprodução do capital.

O economista Paulo Roberto de Almeida, em seu estudo “Distribuição mundial de renda: as evidências desmentem as teses sobre concentração e divergência econômica”, publicado pela Revista Brasileira de Comércio Exterior, edição abril-junho 2007, cita o economista catalão Xavier Sala-i-Martim, da Columbia University, revelando, a partir de indicadores deste início de século, a diminuição da pobreza em nível mundial. Os dados da distribuição mundial da renda, após a adesão à divisão mundial do trabalho, pelos países considerados socialistas, até a década de 70, sinalizam uma reversão na tendência das desigualdades distributivas da renda, entre países ricos e pobres, embora não em todos os lugares e não com a mesma rapidez. Mas essa tendência reversiva poderá diluir-se se não houver maior desenvolvimento dos países localizados na África, além da necessidade de se pensar na aceleração do ritmo de evolução estrutural e na distribuição interna da renda aos países, abrangendo um maior número de setores beneficiados, associados ao aumento do bem-estar dos indivíduos envolvidos.

Para que se alcance o sucesso na quarta revolução industrial (a da nano e da biotecnologia) o economista Paulo Roberto de Almeida lembra a importância de nossos líderes mundiais: “como sempre ocorre na história humana, decisões erradas, adotadas por homens que estão em posição de decidir – as chamadas elites – podem, e em vários casos efetivamente já o fizeram, colocar tudo a perder, escolhendo caminhos errados no processo de desenvolvimento”.

E certamente esses líderes terão pela frente a tarefa de gerar políticas para satisfazer a duas das principais reivindicações dos trabalhadores desta aldeia global: bons empregos e ótimos salários, uma tarefa nada fácil de ser realizada. Para o Sociólogo e Professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, José Pastore, a Empresa moderna conseguirá atender em parte a reivindicação geral dos trabalhadores, de maior acesso ao consumo, uma vez que os produtos melhoraram de qualidade e baixaram de preço.

Mas o barateamento dos produtos industrializados e a qualidade maior deles foram alcançados com a utilização de menos mão-de-obra e mais especializada, pois agora se exige do trabalhador a multifuncionalidade, isso é, várias habilidades para o exercício de suas funções, conforme assegura aquele economista. Ou seja, os novos métodos de produção usam pouco trabalho, geram desemprego, subemprego, jornadas de tempo parcial, trabalho temporário e outras formas atípicas. Segundo Pastore, o desemprego no mundo não é determinado apenas pelos métodos que poupam trabalho. Ele é causado também pela escassez de capitais para investimentos e pela carência de mão-de-obra qualificada para trabalhar nas novas condições de tecnologia e de administração.

Segundo relatório, divulgado pela OIT – Organização Internacional do Trabalho, em setembro de 2007, os níveis de produtividade do trabalho aumentaram durante a última década, embora haja um contraste entre países industrializados e as demais regiões. No entanto, essa distância tem diminuído, principalmente em relação às regiões onde se registraram avanços importantes, como a Ásia Meridional, a Ásia Oriental, a Europa Central e Sudoriental. O mesmo estudo apontou o desperdício do potencial produtivo dos trabalhadores como sendo uma das principais causas da pobreza mundial.

O mesmo relatório, “Indicadores Chave de Mercado de Trabalho”, 5ª edição, conhecido como KILM, segundo sigla inglesa, revela que os Estados Unidos leva considerável vantagem sobre o resto do mundo em relação à produtividade do trabalho por pessoa empregada, durante o ano de 2006, apesar do rápido aumento registrado pela Ásia Oriental, onde os trabalhadores produzem agora o dobro do que o faziam há 10 anos. O aumento da produtividade se deve principalmente ao resultado de uma melhor combinação entre capital, trabalho e tecnologia, isso é através da formação e da capacitação de recursos humanos, da utilização de equipamentos e de tecnologia adequados o que acarreta, em contrapartida, a subutilização do potencial humano no resto do mundo.

Para o Diretor Geral da OIT, Juan Somavia, há preocupação em relação à grande brecha existente entre produtividade e riqueza: “o aumento do nível de produtividade dos trabalhadores de países mais pobres é essencial para a redução dos enormes déficits de trabalho decente no mundo”. Segundo a OIT “o trabalho decente é produtivo e permite uma inserção justa, implicando em segurança no trabalho e proteção social para as famílias, assim como a possibilidade de as pessoas se expressarem, se organizarem e participarem das decisões que afetam suas vidas”.

“Centenas de milhões de mulheres e homens trabalham duro por longas jornadas, porém sem as condições que os permitam e suas famílias superar a pobreza e o risco de serem cada vez mais pobres. A Agenda Internacional de Desenvolvimento deve considerar como uma prioridade o aumento do potencial produtivo para liberar capacidades que hoje são subutilizadas”, disse Somavia, por ocasião da liberação daquele relatório.

Segundo o informe do KILM, um bilhão e meio de pessoas estão “potencialmente subutilizadas, o que equivale à terça parte da população em idade de trabalhar. Esse novo cálculo sobre a subutilização da mão de obra inclui 195,7 milhões de trabalhadores desempregados e quase um bilhão e trezentos milhões de trabalhadores pobres que vivem com suas famílias com menos de dois dólares diários por pessoa.

“Os desempregados querem trabalhar, porém não conseguem oportunidades. Os trabalhadores pobres, por outro lado, estão empregados, porém não ganham o suficiente para superar a pobreza”. O mesmo relatório estima que a metade de todas as mulheres e homens com emprego está vulnerável à pobreza. “São pessoas que atuam na economia informal, com maior risco de carências de proteção, sem seguro social ou sem voz no trabalho. Mais de 70% dos trabalhadores na Áfria Subsahariana e Ásia Meridional estão em situação de emprego vulnerável”.

O mesmo relatório prossegue: “na subutilização da mão de obra no mundo há uma grande quantidade de pessoas, aproximadamente a terça parte da população em idade apta para trabalhar, que não participa dos mercados de trabalho. Durante os últimos 10 anos, a taxa de inatividade tem sido muito mais alta para as mulheres (cinco de cada 10), do que para os homens (2 para cada 10). Isso significa que há um importante potencial da força de trabalho feminina que permanece inativa. Tudo isso, segundo o KILM, explica as relações que existem entre pobreza, déficit de trabalho decente e subutilização de mão de obra.

E um desses resultados é, sem dúvida, um verdadeiro atentado contra a dignidade humana: a fome e a subnutrição, sentença que condena à morte expressivos contingentes da população mundial, muito embora, durante os últimos anos, a oferta de alimentos tenha crescido em cerca de 18%. A carência prolongada de alimentos provoca o debilitamento do organismo humano, a apatia, a perda do sentido social, a indiferença e, por vezes, a hostilidade. A própria Declaração Universal dos Direitos Humanos preconiza o direito inalienável de todo o ser humano ser libertado da fome e da subnutrição, a fim de se desenvolver plenamente e de conservar as suas faculdades físicas e mentais.

No outro extremo, estão aqueles trabalhadores que conseguem aferir maiores salários e oportunidades crescentes e que estão suscetíveis aos apelos do consumo, como forma de experimentar melhor qualidade de vida. O consumo exacerbado constitui um dos elementos principais para o agravamento dos problemas ambientais, já que estimula a utilização desmedida dos recursos naturais não renováveis. Por isso mesmo, por mais paradoxal que pareça, já começam a existir movimentos de maior consciência quanto aos reflexos de se ganhar bem e ser trabalhador melhor aquinhoado.

Hélio Mattar, que dirige, no Brasil, o Instituto Akatu, ONG que dissemina o conceito de consumo consciente, afirma que, à medida que ficam mais claras as relações entre o ato de consumir e a sustentabilidade do planeta, as pessoas tendem a rever os seus conceitos. “Mas é um processo lento, de educação”, afirma o dirigente, que continua: “e não faltam argumentos, pois "a capacidade de reposição do planeta é simplesmente insuficiente para satisfazer, de uma forma sustentável, as ambições da China, Índia, Japão, Europa e Estados Unidos, bem como as aspirações do restante do mundo", afirma ele. O veredicto, dado pelo relatório "O Estado do Mundo" (The State of the World) da ONG Wordwatch Institute, serve para ilustrar as implicações do consumo excessivo para o futuro da humanidade - se sistemas menos impactantes ao ambiente e às pessoas não se difundirem nos próximos anos”.

O grupo ambientalista WWF também lança o seu relatório: “Os recursos naturais da Terra estão se exaurindo tão rapidamente que "dois planetas" seriam necessários para manter o atual estilo de vida da humanidade por mais uma geração. A Entidade, com sede na Suíça e também é conhecida como Fundo Mundial para a Natureza, disse na edição mais recente de seu Relatório sobre o Planeta Vivo, que mais de três quartos da população do mundo vive em países cujos níveis de consumo superam em velocidade a renovação do meio ambiente. No documento, o grupo concluiu que o consumo exagerado do "capital natural" coloca em perigo a futura prosperidade do mundo, gerando impactos evidentes na economia, tais como a elevação do preço dos alimentos, da água e da energia.

Com efeito, as questões aqui abordadas constituem prioridade na pauta de discussões das principais lideranças mundiais, por discorrerem sobre os principais desafios que toda humanidade enfrenta hoje, sendo catalisadas pela economia e pelos avanços tecnológicos. Mas também temos desafios de ordem ético-espiritual e política.

No tocante às questões ético-espirituais, registre-se a referência entre atitudes egocêntricas, a crise ético-moral existente e a aplicação do que preconiza o artigo 1º de nossa carta magna. Embora divergentes e até antagônicas, as religiões, hoje, contemplam uma ética e uma moral que levam às pessoas a viverem sob a perspectiva do espírito de fraternidade e de consciência na valorização dos valores que transcendem à própria existência. A diversidade de crenças e de valores abrange desde o ateísmo, o agnosticismo, o deísmo, o humanismo-Laico, o Unitário-Universalismo, até mesmo as religiões monoteístas, que são dominantes no mundo: o judaísmo, o cristianismo e o Islão e que, juntas, agregam mais da metade dos seres humanos e quase a totalidade do mundo ocidental. A diversidade religiosa representa as diferentes percepções de vida e de suas manifestações existenciais.

Segundo o número de adeptos, com base em informações da Wikipédia, pode-se dizer que o Cristianismo é a religião que mais se destaca (2100 milhões), seguida do Islão (1300 milhões); ateus/agnósticos/sem religião (1100 milhões); Hinduísmo (900 milhões); Religiões tradicionais chinesas (394 milhões); Budismo (376 milhões); Religiões tradicionais africanas (100 milhões); Sikhismo (23 milhões); Judaísmo (18 milhões); Espiritismo (15 milhões); Fé Baha'i (7 milhões) e Jainismo (4,2 milhões).

Todas as religiões, crenças, credos são importantes à história da humanidade porque elas contêm a semente das Verdades Eternas, desenvolvem profundos sentimentos de amor e de compaixão e mostram um afã incansável de solucionar os males do mundo. Este autor não acredita que possa existir uma religião universal, que substitua, prevaleça ou sintetize todas as demais. Mas, sim, uma mística capaz de propiciar sentimentos de amor e de compaixão capazes de nos fazer aproximar dos princípios propugnados pelo artigo 1º da nossa carta magna.

E são elas inspiradores para a grande transformação política desejada, inspirando nossos líderes a buscarem instaurar os princípios de uma economia mais solidária e da paralela inclusão social, para todos os cidadãos do mundo, mantidas as suas dignidades fundamentais. Para isso eles precisarão estar em consonância com as sete leis universais que regem todo o cosmo: “Amor, Respeito, Liberdade de Pensamento e Ação, Generosidade, Perdão, Respeito à Vida e Livre-Arbítrio como pilares básicos necessários à materializar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, antes que ela complete seus 100 anos de existência.


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