quinta-feira, 7 de maio de 2009

Profecias

Você, que me lê neste momento, saberia identificar, numa mata, quais as plantas que curam? Saberia dizer a seus filhos qual a melhor época para se plantar? E para se colher? Saberia viver somente do que a natureza oferece através de seu trabalho?

Quantas vezes você andou, nos últimos tempos, pelas matas, ouvindo o vento bater nas arvores, os pássaros em sua ruidosa busca pelos alimentos que a mata oferece? Quantas vezes você, nos últimos tempos, conseguiu colocar suas mãos em forma de cunha para colher água diretamente das fontes que brotam do chão de nossa Mãe Terra? E andar pela natureza viva à noite vendo um céu coberto pelas estrelas?

Somos filhos de um processo de industrialização que nos faz chegar à nossa mesa o alimento embalado, separado, lavado, pronto para o consumo. Afinal, podemos deixar que mãos calejadas de agricultores mal remunerados cuidem disso por nós. Pois somos filhos do conforto, da coisa triada, do alimento que nos chega sem rugas ou cheios de pequenos organismos. Recebemos aquele alimento que é só colocar na panela e ou direto nos pratos para saciar a nossa fome.

Somos filhos de uma sociedade de consumo que se alimenta do que os veículos de comunicação de massa exortam ao consumismo, o conforto e a satisfação ampla de nossos egos que criam e distorcem nossas necessidades primárias. E é através desses mesmos veículos que sabemos que a vida na terra corre perigo. Confundimos, em nosso imaginário, tomar conhecimento com participar dos processos.

O que muitos ainda não compreendem é que a responsabilidade de reverter os processos degenerativos pertence a cada um de nós: a você que me lê e a mim também. Essa é a sentença. A utopia, agora, é fazer ações saneadoras que mudem o destino traçado.

Para os mais ególatras, a solução é correr na frente e usufruir antes que seja tarde. Mas, para os mais responsáveis, há a consciência de que as novas gerações herdarão o que estamos fazendo agora por elas.

Se as florestas tropicais desaparecerem, se não mais houver águas potáveis, se nossa Mãe Terra não der mais alimentos, teremos falhado em nossa responsabilidade de deixar às novas gerações a qualidade de vida que elas vieram experimentar. Se não conseguirmos passar para as novas gerações o conhecimento de que somos filhos da terra e não seus donos, teremos falhado e também destruída toda a rica herança herdada de nossos antepassados.

Não queremos olhar o futuro sob o filtro dos maus presságios, do desânimo ou tristeza, mas, sim, através da confiança e da esperança. Nossa Mãe Terra há de encontrar, contando com nossa ajuda, meios para se regenerar e criar novas formas de vida.

Isso é o que mais queremos, principalmente por todos aqueles que se dispõe, agora, a olhar o futuro e as novas gerações, a partir das feridas que já conseguimos imprimir ao meio em que vivemos. Qual será o futuro desse planeta? Inúmeras interpretações sobre seus desdobramentos. Os mais céticos dizem que o fim da terra é inevitável. Os mais realistas dizem que ainda há tempo. Os mais apocalípticos apontam o iminente desfecho apoteótico.


Você, caro leitor, já deve ter lido sobre alguma previsão apocalíptica. Dentre essas podemos destacar aquela emanada pelo Caminho Xamânico Sagrado que pertence à tradição dos indígenas da América do Norte. Conta essa profecia que um fogo virá do Céu e atingirá a Terra através dos oceanos, interrompendo o atual processo de evolução das espécies.

Mas essa profecia também alude o surgimento de um conjunto de homens e de mulheres que acordarão do sono do Quinto Mundo da Paz. Esses guerreiros se recordarão de sua herança e a utilizarão para o bem de todos os Filhos da Terra.

Muitas pessoas, que se desligaram da Mãe Terra e não sabem mais como plantar terão que aprender a fazê-lo. O mesmo deverá acontecer em relação às potencialidades medicinais das plantas, abrindo condições para que os homens aprendam a servir e a partilhar, convivendo harmoniosamente com a Mãe Terra e formando uma grande Comunidade Mundial. Esses homens e mulheres não mais pertencerão às tribos às quais fizeram as suas profecias, mas carregarão em si a sua alma e os seus conhecimentos, novamente relembrados.

Por certo que nem todos nós encararemos essa ou outras profecias como dignos de nota. Mas por certo que tais predileções partem de uma realidade inexorável: tudo o que acontecer no futuro depende essencialmente do que fizermos agora.

Em boa hora podemos aprender que os principais valores, que regem essa existência, são o amor e a alegria. E tudo o que hoje sabemos é depositório do que foi acumulado por nossos antepassados. Esse legado nos fala de que todas as formas de vida, ciclos e ritmos telúricos estão interligados e dependem, essencialmente, de uma harmonia planetária.

E essa, para ser aplicada, depende significativamente da nossa crescente abertura de consciência aos valores que a terra nos dá. Por isso façamos a nossa parte: deixemos de ver a vida através de embalagens e produtos industrializados, que nos chegam às mãos através de sacos plásticos para nos alimentarmos. E façamos o trajeto inverso, até chegarmos ao humos da terra, cujo ventre revela os verdadeiros mistérios emanados pelo espírito de união de todos os fenômenos cósmicos que geram a vida, inclusive a nós, tão afastados de nossa verdadeira natureza.

2 comentários:

  1. Bonito e procedente teu texto. Acho que temos mais é que achar um caminho para viver da terra de forma organizada e capaz de atender ao maior numero possível de pessoas, sim. Mas vou te confessar uma coisa: adoro comprar as coisas já prontas, sei que é uma falha minha, mas não suporto mais cortar cebola hehehehe. abs

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  2. Como escreveu a Maristela, teu texto é bonito, procedente, e, também, profundo. Nascido no interior do interior do RS, me comovo cada vez que sinto cheiro de mato. A última vez foi na semana passada. Por incrível que pareça, na área preservada do hospital Moinhos de Vento, onde fui visitar um amigo.
    Mas fico de cara quando constato que são poucas - e pouco poderosas - as pessoas que enxergam coisas tão básicas como a necessidade de preservar ummínimo da natureza. Os agricultores (agora chamados de produtores rurais) têm lobbies poderosos para plantar até as margens dos rios e riachos. Têm o apoio de deputados, senadores, e pelo menos os govertnadores do RS e SC. Querem também substituir as florestas da amazônia por pasto para o seu gado. E, cedo ou tarde (temo que cedo) vão conseguir.
    Depois, se houver enchente ou seca, exigem grana do governo para compensar as perdas que tiveram. E o dinheiro sai dos mesmos cofres que financiam a saúde, a educação, a segurança.

    Abraços

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