domingo, 5 de julho de 2009

A arte de escrever

Dentre os livros que passaram à frente de minha retina, destaca-se “O Encontro Marcado” de Fernando Sabino. Em suas letras o autor dizia: “Escrever é exercitar a arte do monólogo”. Nada mais verdadeiro. Toda vez que me disponho a sentar e a escrever algo, para postar neste Blog, me deparo com inúmeras perguntas que me vêem à mente: “Quem é o leitor que me lê? Quais são seus gostos e preferências? Sobre o que gostaria que eu escrevesse? Estou acrescentando algo novo em suas vidas? Consegue ele penetrar em minha alma através de um processo de empatia, que se estabelece entre essas letras eletrônicas, suas paixões e expectativas de vida?

Como não tenho as respostas, devo contentar-me com as perguntas. E também continuar exercitando os meus monólogos. Mesmo que sejam através de mão única. Escrever está associado a todas as formas de leitura.

Certa vez confessei a um gerente de um cinema, que exibia filmes de arte, que, dentre as experiências que gostaria de realizar, uma delas seria montar uma livraria. Nesse diálogo ele foi logo afirmando: “Livro é uma coisa pouco difundida no Brasil. A maioria dos proprietários de Livrarias que conheci faliram. Só vencem aqueles que possuem estabelecimentos em rede, se preocupam em lançar à venda aquelas obras que estão na moda e são ofertados por profissionais que conhecem pouco de seu ofício, mas que possuem um salário desse tamanho, pequeno e compatível com a função de empurrar Best Sellers. Não se meta nessa, não, camarada. Você vai quebrar a cara. No cinema é a mesma coisa: filme que leva a pensar não dá bilheteria. Somente filme de porrada”.

E a platéia?, pergunta ele? Dia desses eu vi um menino chegar às 2 da tarde, aqui, sentar num dos sofás do saguão, e ficar parado, sem fazer absolutamente nada, só olhando quem chegava prá comprar ingresso, até as 22 horas. O cara sentou, colocou os pés no assento, mesmo sujando o tecido de revestimento, e ali ficou, parado, sem pensar, sem se movimentar. Somente fazendo nada”.

Tanto ele como eu somos pessoas, no mínimo, excêntricas, por querermos trabalhar com algo pouco cobiçado no Brasil. Vende-se, no Brasil, somente aquilo que é produto da mídia, do prazer vendido, da excitação em moda, do que é recomendado pelas famosidades.

Sempre fui uma pessoa que se perguntou: o que faz os gostos e preferências de quem freqüenta uma livraria? Dentre os títulos, em exposição, o que leva um leitor escolher “aquele” título e não outro? Será que ele fica folheando brochuras prá ver o quanto deve se dedicar a devorar, naquele “monte de páginas”? E será que ele se contenta em ler livros massudos, sem fotos, sem pausas para descansar? Ou será que ele agora está atraído pela ambiência dos novos estabelecimentos, que são mistos de exposição de livros, cafés, pontos de encontros, música ao vivo, vendas de quinquilharias, seja lá mais o que, como estratégia de marketing para atrair potenciais clientes?

Alguém há de dizer: deixa isso prá lá, pois as pessoas passam mais tempo a frente do computador, já que agora têm twitter, Orkut, MSN, blogs, sites de relacionamento, amigos virtuais, etc., tudo isso para tornar o livro obsoleto. E, se assim é, então porque nunca se produziu tanto papel, em plena era da informática?

Por isso volto a meu monólogo, para me perguntar: será que perdemos o interesse em aprofundar assuntos, em nossa relação com os outros, para apenas apreciar informações instantâneas que trocamos superficialmente com os outros internautas, para validar um ego que a todo o momento precisa ser alimentado e engordado para declarar a sua onipotência? Ou será que a livraria deixou de ser aquele ponto de encontro entre escritor e leitor, por termos a facilidade de “fazermos downloads”, pela internet, dos conteúdos sintetizados que aplacam nossa imediata e pragmática sede por conhecimento?

As livrarias são hoje empreendimentos que perdem de longe para lan houses, lojas de discos, lojas de informática ou de telefonia, etc. Talvez pelo eventual equívoco de que o ato de ler não signifique empurrar informações para dentro, mas fazer despertar o que existe dentro de nós, renovado e colocado para fora como meio de manter a dignidade e a conseqüência de procurar responder as grandes questões existenciais que perseguimos enquanto estamos aqui.

Pois, ler, escrever e pensar são considerados atos verdadeiramente subversivos, em regimes de exceção, e libertários em regime democráticos, quando conduzem à liberdade do livre pensar. Escrever e ler são formas que transcendem o ego e vão ao encontro de nossa condição maior de ser humano, na esperança de que monólogos sejam transformados em verdadeiros diálogos fecundos para revelar nossa disposição em sermos guiados por ideais transcendentes.

Pelo menos esse é o propósito de manter esse Blog, estimulando o debate, a tempestade de idéias. E, por trás da letra digital, reconhecer a letra impressa, como ferramenta de reflexão, ainda que esteja tão fora de moda, mas tão eficaz para evitar o que previu George Orwell em sua obra “ 1984”, pelo surgimento do Big Brother, não o de Pedro Bial, mas o de uma máquina estatal totalitária, que venha abolir a todo ato propugnado pelo filósofo: “se penso, logo existo”. Enquanto eu ler e também escrever estarei vivo e livre para validar a vida interior, que pulsa e me faz sentir pleno, dentro de um universo em constante transformação.

Um comentário:

  1. Fernando,
    Continue a nos encantar com seus monólogos,para que dentro de um universo possamos buscar nossas transformações.
    abraços,Ana

    ResponderExcluir