sábado, 11 de julho de 2009

Problemas e dificuldades

Há uma frase, proferida durante o velório de Michael Jackson, que me chamou a atenção. Ela foi pronunciada pelo Pastor Lucious W. Smith, da Igreja Batista de Pasadena:“Obrigado, Michael, porque você nunca parou, porque nunca desistiu, porque acabou com nossas divisões. Eu gostaria de dizer algo para os três filhos: não há nada de estranho com seu pai. Estranho foi o que ele teve de enfrentar”.

O Pastor Lucious, com a sensibilidade aguçada de quem persegue o amor altruísta como ideal de vida, reconhecia uma condição humana presente na vida de todos nós: são nossas atitudes que fazem toda a diferença em relação a problemas e dificuldades.

Nem sempre a vida se apresenta de forma límpida, mas dura, cheia de contradições em si, impregnada de convenções, preconceitos e erros, sentimentos constrangedores que não poupam ninguém e provocam angústia, tristeza e solidão. E tal qual a história de um copo que contenha líquido pela metade e será visto como quase cheio, por uns, ou por quase vazio, por outros, assim também podemos encarar fases adversas como o infinito findar de um ciclo, que é marcado pela angústia de viver ou como o início de outro.

Quem, nesta vida, não os encontrou ou não os enfrentou? Acredito que haja uma tênue, porém substancial diferença entre ambos. Considero problema como uma hesitação frente a um obstáculo e dificuldade como um impedimento diante de um obstáculo.

Nada é tão desafiante à nossa verdadeira condição interior do que ser suscitado pelos problemas e pelas dificuldades que vêm do ambiente e das circunstâncias que vivemos. Lidar com eles faz parte de nossa formação humana, pois eles penetram em nós através de nossa parte obscura, aquela que traduz tais obstáculos em sentimentos de incertezas, dúvidas e impotências.

Eles penetram em um lugar onde o tempo não serve de medida e onde há o medo de que estraguem ou desequilibrem o interior, por chegar de forma desprevenida e pela falsa convicção de que as virtudes disponíveis são incapazes para enfrentá-los, dentro de uma condição não inteiramente amadurecida e pura.

Trata-se de experiências dos sentidos, onde a dor exerce um poder superior à vontade e à resistência, atritando e colocando em cheque nossa fecundidade. Mas a cada obstáculo, a ser vencido, nos encaminha à construção de um novo ser humano, em profundidade e magnitude, dentro de uma crescente maturidade carnal e espiritual.

São experiências que nos fazem refutar falsos sentimentos, construídos durante a existência de empecilhos, por outros que conduzem à harmonia e à fecundidade de se sentir pleno diante da vida, onde a confiança em si se faz mais e mais presente. Como uma escada onde subimos degrau a degrau, aprendendo a identificar e a preservar as poucas coisas que prevalecem até o eterno, enquanto problemas e dificuldades ameaçam nos consumir.

Antes de superar a cada problema ou dificuldade, vem o sentimento de solidão e de isolamento, tão grande e difícil de carregar. Tal situação exige penetrar-se em si, na grande solidão interior, principalmente quando descobrimos que aquilo que nos enseja ocupação não está diretamente ligado à nossa à vida. Talvez, nesses momentos, a melhor atitude não seja colocar-se na defensiva e no desprezo por si, mas simplesmente aceitar a não-compreensão que impede sair de labirintos e seguir rumo à luz como uma forma de viver as próprias perguntas.

É difícil viver a solidão. Mas, se encarada, mesmo com medo e palpitação, pode ser uma ótima oportunidade para se aprender a transformá-la em algo em si mesmo, aceitando-se o que se apresenta estéril, empobrecido.

Não é possível viver sem perigos e inseguranças, mas é possível crer-se que o caminhar e o passar do tempo tragam o auxílio e a aprendizagem de como nos defrontamos com o adverso. Se formos perseverantes, conseguiremos aproximar as referências de vida dos problemas emergentes, vencendo suas incertezas. Nossas tristezas serão dirimidas, sendo as experiências repassadas ao recôndito de nosso ser, tornando mais finito a nossa dimensão interior infinita.

Perseverar frente aos problemas é criar meios para vivermos melhor com o inexplicável, que se apresenta quando menos estamos preparados. Nossas covardias, ao contrário, nos levam a capitular frente aos mistérios que nos atrofiam, principalmente frente ao maior dos mistérios inescrutável: o da própria morte.

É preciso vencer o medo do novo, quando não nos sentimos suficientemente fortalecidos. É preciso aceitar que a vida é um eterno devenir e que, por mais enigmática que se apresente, contempla incertezas tanto quanto as certezas, ainda que a tratemos como verdadeiros abismos a serem transcendidos.

Viva cada etapa dessa descoberta, não se censure, não seja impulsivo. Não pense no erro, no tropeço, na falha, mas naquilo que pode suceder ao que se revela como um problema ou dificuldade. O curso natural do que nos acontece vai, progressivamente, nos conduzindo à melhor compreensão do que está subjacente à experiência.

Procure retirar de dentro, do mais absoluto inconsciente, a luz que se busca, o ato de recriar ou compreender cada experiência. Pois, aos poucos, a sucessão de problemas e dificuldades nos prepara para chegarmos a conhecer a grandeza da existência e da eternidade, quando certezas e incertezas se tornam os lados do ato de ser humano.

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