quarta-feira, 14 de julho de 2010

A CABRA

Entre as muitas histórias, acerca de Gandhi, uma me vem à cabeça, neste momento.


Conta-se que, certa vez, Gandhi recebera, em sua casa, para uma reunião, os principais líderes da Revolução pró-independência da Índia. Todos reunidos, pauta em andamento, Gandhi recebeu a visita de um menino, que lhe cochichou alguma coisa ao seu ouvido. O Grande Marratma interrompeu a reunião e saiu às pressas, deixando a todos atônitos. O que aconteceu?, perguntavam. Todos foram à janela para ver Gandhi atender a uma cabra, que estava com dor de barriga.

Os presentes se olharam e perguntaram, de forma ironica:

Poxa, ele interrompe uma reunião com altos representantes do movimento para atender a uma cabra que está com coligas?

Muitos não entenderam o significado daquele gesto para Gandhi. No Mundo de Deus, nenhuma coisa é mais importante do que outra.

Muitas vezes ignoramos coisas pequenas, compromissos já assumidos, porque achamos que estamos dando importância às coisas relevantes, gesto que estaria justificando plenamente a sua omissão.

Quantas vezes um político ou um gestor vai de encontro a compromissos menores, já firmados, porque está agindo “em nome do bem comum" .

Tanto a democracia como o autocratismo usam o mesmo discurso: trabalham para o bem comum.

Mas, para mim, nenhuma causa, por mais nobre que seja, vale a quebra de cumplicidades estabelecidas.

Gandhi entendeu que dar a atenção a uma simples cabra é tão importante quanto discutir os destinos de sua Índia.

No Universo, criado por Deus, todos são iguais, perante o Criador. A diferença está nas formas como olhamos as situações que nos cercam: olharmos o universo manifestado com o que é invisível aos olhos e afeto ao coração.

Faltar a palavra empenhada, deixar de reconhecer tratos formulados, não dar importância às coisas menores, porque estamos tratando de questões maiores, em nome do benefício de todos, é permtir que nos deixamos impregnar pelo discurso coletivo, quando nossas intenções não querem outra coisa senão satisfazer a nossos desejos pessoais.

Gandhi se deu conta disso. E nós pobres mortais? Em que amparamos nossos discursos? No altruísmo e na reverência a todas as formas criadas por Deus ou no discurso inflamado, baseado em intenções de servir, carregando, de forma subjacente, nosso universo egocêntrico em busca de satisfação de nossos desejos?

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