quinta-feira, 8 de julho de 2010

Virtudes e espiritualidade

De volta às reflexões comportamentais, após a minha recente digressão no campo político, lembro-me do que dizia o escritor Fernando Sabino, de que escrever é a arte do monólogo. E eu digo, também, que escrever é a arte de aproximar, pela escrita, seres humanos que possuam afinidades.


Existe uma evolução natural nas relações, assim como existe uma evolução na condição humana, já que tudo evolui, tudo muda, tudo se transforma. A dor aparece, na vida de cada um, como forma de realizar o resgate de nossas dívidas existenciais, quando um ser humano teima em não realizar esse resgate de forma consciente e através de seu livre-arbítrio.

Na passagem por este mundo, queremos deixar nossas marcas, sermos lembrados com admiração e respeito, estabelecermos atalhos para não sofrermos, não sermos vítimas do destino. O acúmulo de riquezas serve para atender não só as necessidades de consumo, mas, também, como ícone para sermos lembrados para muito além de nossa passagem por esta forma de vida.

Mas as verdeiras mudanças espirituais não ocorrem porque temos virtudes que são usadas quando assim o desejamos. Muitos dizem: mas eu rezo tanto, eu sou bonzinho, respeito os demais, por que acontecem os revezes em minha vida? Não merecia passar pelo que estou passando.

Ser bonzinho para ganhar prêmios não é nada mais do que barganhar com a vida, dentro de uma relação de troca: eu te dou isso (sou bonzinho) e a vida me dá aquilo: dinheiro, estabilidade, saúde, status, poder, ascendência, condição de interferir na vida dos outros, simplesmente porque pratico virtudes.

Ser bonzinho não é condição para se alcançar maior desenvolvimento espiritual.

O Mestre Jesus, considerado o Mestre da Compaixão, têm o seu Reino de Amor para ensinar que, se amarmos a cada criatura ou coisa através de um amor puramente pessoal, um amor que esteja vinculado ao doar como forma de conceder, uma forma de amar que se compraz mais da sensação de amar do que com o bem de ser amado, nos afastamos de nossa real condição de ascensão espiritual.

Para nos ligarmos à grande corrente ascensionada do amor, temos que aprender a amar de uma forma tão inteiramente destituída de egoísmo, sem sentir angústia, sem se sentir atraída por recompensas muito maiores do que somos capazes de dar. Isso é viver a dimensão do amor superior, que nunca nos será tirado, nem elevado, nem rebaixado, nem qualquer outra pessoa poderá nos tirar do objeto do amor.

No caminho do desenvolvimento espiritual, não são os deveres, mas os desejos que devem ser gradativamente aperfeiçoados até a sua gradativa extinção. Os deveres devem ser cumpridos, sem se eximir, cada dívida humana tem que ser amortizada, para nos tornarmos almas livres. Os Mestres da Sabedoria nos aguardam ao longo de nosso caminho ou trajetória. A um dado momento eles nos tomam pelas mãos e nos ajudam a seguir pelo caminho.

Nosso trabalho consiste em conquistarmos os meios, porque, seguramente, Deus será quem nos indicará como usarmos as nossas conquistas. Nossas incompetências não servem de passagem para uma condição maior. Então temos que buscar a evolução fazendo o melhor de nós mesmos. Construirmos a nobreza de caráter e o equilíbrio da mente. Caso venha a falhar nisso, alguma coisa nos ficará faltando tal qual subir uma escada que está faltando um degrau.

Para aqueles que desejam embrenhar-se pelo caminho do desenvolvimento espiritual, algumas coisas são consideradas básicas, e, à medida que se os alcança, nos tornamos capazes de colher os seus frutos. São eles:

Pureza e paz, mente sã em corpo sadio, misericórdia no pensamento e na ação, bem como na palavra ou na escrita, ordem e limpeza, tanto na mente como no ambiente, tratamento justo e honesto no cumprimento das obrigações; e, principalmente, bondade simples para adoçar os relacionamentos humanos. Em duas palavras: nobreza de caráter e equilíbrio da mente.

Se cada um fizer a sua parte, estaremos, juntos, nos harmonizado com o meio e com o agrupamento que vivemos, dentro de uma condição mais solidária, pluralista e verdadeiramente favorável para que demos curso à evolução natural do ciclo da vida.

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